Agnus Dei, qui tollis pecata mundi, tende piedade de nós... e dai-nos a paz… a paz… a paz ... ♦ “Toda vez que saio me preparo pra talvez te veeeeer” ♦ Catulo, não fosse ele brasileiro, teria a fama de Jacques Brel? ♦ Vocês também se arrependem com frequência do que publicam online (se o fazem) ? ♦ "Deveria ser, como - como ter uma grande esmeralda-esmeralda-esmeralda num estojo aberto. Intocável." ♦ Para o outono a folha: Exclusão / Para todas as coisas: Dicionário / Para que fiquem prontas: Paciência / Para quem não acorda: Balde / Para o beijo da moça: Paladar / Para os dias de folga: Namorado / Para você o que você gosta ... Diariamente. ♦ Sonhei com magia, tortura, mutilação e necrofilia. Julguem-me. ♦ Cortei o dedo anelar – sem querer, afinal não sou emo – com o barbeador. Hemácias escorrem e não estancam. ♦ “Rien n'y fait, menace ou prière, L'un parle bien, l'autre se tait: Et c'est l'autre que je préfère, Il n'a rien dit mais il me plaît.” ♦ Cortei as unhas e, juntas, elas formaram a imagem de um torii. É bom contar com proteção espiritual até nas unhas! Rs. ♦ MSN: “Tu precisas ser autônomo, entende? Tu tens de ser suficiente para ti mesmo! Tu não podes jogar a responsabilidade da tua felicidade para uma outra pessoa!” ♦ Amanhã eu melhoro.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
terça-feira, 28 de setembro de 2010
O seu santo nome
Veio assim e eu não esperava mais ver. Sentou no banco quase de frente. Sem óculos. Sempre de tez tão branca! Olhou. Olhei. Gelei. Disfarcei e fingi não olhar, mas foi só virar e re-olhei.
My God what would the community think,
You are so beautiful, you are so beautiful.
All the things that people do in winter,
They all melt down in summer,
Things I never should say,
On a very hot day *
You are so beautiful, you are so beautiful.
All the things that people do in winter,
They all melt down in summer,
Things I never should say,
On a very hot day *
Sabe essa coisa de frio na barriga que se costuma atribuir à adolescência, mas que não nos deixa nunca, mesmo depois de um pouco mais velhos, especialmente quando há sentimento platônico envolvido? Tudo no objeto desejado é impecável. Pelo menos até o conhecermos de verdade. E a gente se põe lá embaixo. Ser stalker é ruim.
O que estraga é a idealização. O “tudo será perfeito” é impossível porque a perfeição é imaginação que não consegue prever a espontaneidade dos acontecimentos, isto é, nunca viveremos um ideal, pois não prevemos os acasos do real.**
Entrou no ônibus, pediu desculpas a um passageiro por ter esbarrado, sentou. E eu olhei, admirando... porque com beleza, o que se faz é isso, em primeiro lugar. Todo mundo faz isso. Só não conta em blog.
Na volta pra casa fiquei pensando se é elogio dizer a uma pessoa que ela é bonita. Se ela nasceu daquele jeito e não tem como mudar, então a beleza que ela porventura tem foge ao poder dela, não houve esforço. Do contrário, dizer que alguém é feio também seria um elogio, quando nato. Um elogio talvez seja mais adequado a realizações, a feitos. O que diferencia pode ser a subjetividade da beleza. Eu acho e outros não. Vice-versa. Foi compreensível?
Mudando de assunto:
Escutei Julian’s Eyes, do Brett Anderson, o dia inteiro no mp4. E olha que não consigo manter o repeat ligado. Essa música sempre me parece um hino à beleza de alguém a quem se admira. Mesmo que não seja isso, gosto de pensar assim. Veja só:
Softening the winter with his eyes / Sitting in the meadow in disguise / Feeling his way, touching the stone / Watching the day through a telephone / Colors in the carnage of his hair / Lose it in the debris on the stairs / Feeling his way, touching her hand / Making his way to the bandstand / He's in the sky, he's in the tide / He's in the trees and the buzz of the night / Feet in the sand, watching life / Through julian's eyes / Softening the winter with his smile / Sitting in the doorway, counting tiles / Feeling way, touching light / Watching the day through quiet eyes / Elephants and spiders in his hands / Capital letters green and red / Feeling his way, making a start / Watching the day through cut glass / He's in the sky, he's in the grass / He's in the wind and the curve of the stars / Feet in the sand, watching life / Through julian's eyes.
É sempre perigoso atribuir aos outros o poder de ver por nós quando temos autonomia para isso. Mas aqui (na música) o teor poético é maior e não faz questão alguma, no momento, de conselhos terapêuticos. O que se deseja é entregar-se e ver a vida através dos olhos do objeto adorado. Ele está no céu, ele está na maré / Ele está nas árvores e no murmúrio da noite. / Pés na areia, vendo a vida / Pelos dos olhos de Julian”. “Ele está no céu, ele está na relva / Ele está no vento e na curva das estrelas (...). Um altar se ergue. Todos os elementos, distintos ou complementares, contêm o ser idolatrado. Aqui embaixo: pedra, areia, relva. Lá em cima: vento, céu, estrelas. Julian é um ser híbrido. Sugere mistura de deus e homem, ligação entre céu e terra. Atribuíram-lhe poderes ao olhar, e as coisas se lhe renderam. Ele é o que amansou o inverno com os olhos e o sorriso e também o que suporta sentimentos densos (elephants) ou fugidios (spiders).
E mudando de assunto de novo:
Ontem, na biblioteca da faculdade, eu comecei a ler as Meditações do Descartes. Li a introdução pomposa que ele fez, sempre cuidadoso em agradar a igreja, dizendo que acredita em Deus, e a primeira das 6 meditações. Aliás, pra quem se interessa pela 'realidade fictícia' de Matrix vale a pena ler pelo menos esta parte. (Mas não vale pensar só em Matrix, hein! rs). Imaginar que o que se vê não passa de artifício, de sonho, é meio desesperador.
Ontem, na biblioteca da faculdade, eu comecei a ler as Meditações do Descartes. Li a introdução pomposa que ele fez, sempre cuidadoso em agradar a igreja, dizendo que acredita em Deus, e a primeira das 6 meditações. Aliás, pra quem se interessa pela 'realidade fictícia' de Matrix vale a pena ler pelo menos esta parte. (Mas não vale pensar só em Matrix, hein! rs). Imaginar que o que se vê não passa de artifício, de sonho, é meio desesperador.
Mora na filosofia
Pra que rimar amor e dor... ***
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Últimos filmes: A single man, Sangue Negro, Último tango em paris, A fonte da donzela, Fanny e Alexander, O céu de Suely, Taxi Driver, Mundo Cão, Ocean Waves, Europa, Cães de Aluguel, Ondas do Destino.
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* Cat Power - What would the community think
**Viviane Mosé no Café Filosófico sobre o Nietzsche fala disso. Tem vídeo no youtube.
*** Samba do Monsueto regravado pelo Caetano no "Transa" - É o disco que mais tenho escutado ultimamente.
* Cat Power - What would the community think
**Viviane Mosé no Café Filosófico sobre o Nietzsche fala disso. Tem vídeo no youtube.
*** Samba do Monsueto regravado pelo Caetano no "Transa" - É o disco que mais tenho escutado ultimamente.
domingo, 15 de agosto de 2010
Comunicado
Screenshot.
Este blog passou pela peneira da censura* e foi proibida a publicação de qualquer conteúdo explícito de autocomiseração. No more tears, folks!
Filme d'hoje: 4 meses, 3 semanas, 2 dias. Silencioso e letal! Romeno.
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* leia-se autocrítica.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
"Qual é o seu desejo? - Elle m'a dit.
Salvador Dalí - La tentación de San Antonio
Hoje eu ouvi uma música bonita da Adriana Calcanhotto, bem assim por acaso. Toma:
Não adianta mentir pra mim mesma / Ficar me enganando, tentando dizer / Que nunca na vida, nunca na vida eu gostei de pão doce / Porque por mais que eu queira esconder / A verdade é que eu adorava pão doce / Não podia passar sem pão doce / Bastava ver padaria, que logo eu ia, que logo eu ia / Comprar / Não adianta mentir pra mim mesma / Porque no fundo, porque no fundo eu sei muito bem / Que essa história toda de não comer açúcar / Que essa história toda de não comer pão branco / Que essa história toda de viver de mel e pão integral / Isso tudo só foi começar muito depois / Depois de um tempo em que eu era / Tão completamente ingênua / Tão sem força de vontade / Que as doces delicadezas / De qualquer guloseima / Lânguidas me seduziam / E minha língua sofria / De incontrolável fascínio / Por cremes dourados / E frutas cristalizadas / Feito rubis incrustadas / Nas crostas crocantes dos pães / Mas hoje / Hoje tudo é diferente / Se eu olho pruma padaria, me ponho cismando, chego a duvidar / Como é que pôde um dia / Eu ter entrado tanto lá!... / Porque por mais que eu queira, mas que eu queira / Mentir pra mim mesma / Ficar me enganando, tentando dizer / Que nunca na vida, nunca na vida eu gostei de pão doce / Fazendo um exame detido, sendo sincera, eu tenho que admitir / Que a verdade, meus amigos / (pelo menos no que tange a trigos) / A verdade no duro, doa a quem doer / A verdade é que eu adorava pão doce / Ai ... adorava pão doce / A verdade é que eu adorava pão doce...
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Edit: 28/04/2011 - Acabo de descobrir que a composição é de Carlos Sondroni e que quem gravou primeiro foi a Clara Sondroni em 1987, e só em 1990, no disco Enguiço, a Adriana regravou.
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Edit: 28/04/2011 - Acabo de descobrir que a composição é de Carlos Sondroni e que quem gravou primeiro foi a Clara Sondroni em 1987, e só em 1990, no disco Enguiço, a Adriana regravou.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Disto eu não esqueço mais:
O Filho de Saturno - Goya
Mas eu ainda supero, e amadureço - quem sabe!
*Aujourd'hui maman est morte.*
*Aujourd'hui maman est morte.*
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Lista "Amélieana": Eu gosto de ...
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) - Jean-Pierre Jeunet
1.Fazer lista dos livros que já li
2.Fazer lista dos livros que quero ler
3.Fazer lista dos livros que tenho
4.Fazer lista dos filmes que já assisti
5.Fazer lista dos filmes que quero assistir
6.Fazer lista dos filmes que tenho
7.Fazer lista de tudo que tenho que levar em uma viagem
8.Descascar mexerica
9.Descascar ovo cozido
10.Ouvir som de cachoeira
11.Ver calígrafos escreverem com nanquim preto no papel branco
12.Ver, de perto, letras sendo formadas no papel, com lápis ou caneta
13.Barulho de folhas de árvore se roçando por causa de vento
14.Gente educada de verdade
15.Abrir encomenda de correio
16.Ler no silêncio da madrugada
17.O silêncio da rua quando grilos não cantam nem cães latem
18.Neblina
19.Vestir roupa de frio
20.Inverno
21.O peso do cobertor
22.Acordar bem cedo e ver o sol nascer
23.Documentários sobre o cosmos
24.Receber carta, ler carta, escrever carta, enviar carta
25.Ser desconhecido num lugar desconhecido
26.Viajar de ônibus, andar de ônibus sozinho, viajar de ônibus em turma, o balanço sonífero de ônibus
27.Assistir aulas e ouvir professores bons falarem e falarem e falarem sem parar
28.Caminhar a pé à noite com fone de ouvido
29.Música bem lenta
30.Ficar sozinho em casa
31.Rasgar plástico de objetos novos: livro, CD, DVD, pacote de folha branca
32.Estourar plástico bolha
33.O primeiro parágrafo da primeira página de um livro, e o último da última.
34.Cães novinhos e engraçados
35.Deixar a parte doce da melancia pra comer por último
36.Ver fotos de estante de livros de gente comum
37.Andar entre estantes de bibliotecas e livrarias
38.Comprar livro novo.
39.Encontrar, por acaso, gente legal na rua
40.Decorar e cantar música com muitas palavras
41.Ver artesanato na televisão, até os mais feios e inúteis
42.Tambores africanos e quase tudo de percussão
43.Assistir harpistas tocarem.
44.Ouvir gente simples falar de coisas simples
45.Ouvir uma certa pessoa cantar, meio desafinado, músicas que eu não conheço, e me contar episódios de séries que eu não assisto
46.Ter momentos de epifania
47.Making off de desenhos de animação
48.Ter crises de riso
49.Ir a parques
50.Grama verde de parques
51.Ver jardins
52.Árvores, árvores, árvores, árvores, árvores
53.Sentir o alívio de 'missão cumprida'
54.Assistir cavalo comer grama
55.Ver um monte de flores reunidas
56.Céu acinzentado.
57.Viciar numa banda.
58.Ver meu pai cortar as unhas com cortador, tesoura ou canivete
59.Sentir dormência na língua por causa de pimenta
2.Fazer lista dos livros que quero ler
3.Fazer lista dos livros que tenho
4.Fazer lista dos filmes que já assisti
5.Fazer lista dos filmes que quero assistir
6.Fazer lista dos filmes que tenho
7.Fazer lista de tudo que tenho que levar em uma viagem
8.Descascar mexerica
9.Descascar ovo cozido
10.Ouvir som de cachoeira
11.Ver calígrafos escreverem com nanquim preto no papel branco
12.Ver, de perto, letras sendo formadas no papel, com lápis ou caneta
13.Barulho de folhas de árvore se roçando por causa de vento
14.Gente educada de verdade
15.Abrir encomenda de correio
16.Ler no silêncio da madrugada
17.O silêncio da rua quando grilos não cantam nem cães latem
18.Neblina
19.Vestir roupa de frio
20.Inverno
21.O peso do cobertor
22.Acordar bem cedo e ver o sol nascer
23.Documentários sobre o cosmos
24.Receber carta, ler carta, escrever carta, enviar carta
25.Ser desconhecido num lugar desconhecido
26.Viajar de ônibus, andar de ônibus sozinho, viajar de ônibus em turma, o balanço sonífero de ônibus
27.Assistir aulas e ouvir professores bons falarem e falarem e falarem sem parar
28.Caminhar a pé à noite com fone de ouvido
29.Música bem lenta
30.Ficar sozinho em casa
31.Rasgar plástico de objetos novos: livro, CD, DVD, pacote de folha branca
32.Estourar plástico bolha
33.O primeiro parágrafo da primeira página de um livro, e o último da última.
34.Cães novinhos e engraçados
35.Deixar a parte doce da melancia pra comer por último
36.Ver fotos de estante de livros de gente comum
37.Andar entre estantes de bibliotecas e livrarias
38.Comprar livro novo.
39.Encontrar, por acaso, gente legal na rua
40.Decorar e cantar música com muitas palavras
41.Ver artesanato na televisão, até os mais feios e inúteis
42.Tambores africanos e quase tudo de percussão
43.Assistir harpistas tocarem.
44.Ouvir gente simples falar de coisas simples
45.Ouvir uma certa pessoa cantar, meio desafinado, músicas que eu não conheço, e me contar episódios de séries que eu não assisto
46.Ter momentos de epifania
47.Making off de desenhos de animação
48.Ter crises de riso
49.Ir a parques
50.Grama verde de parques
51.Ver jardins
52.Árvores, árvores, árvores, árvores, árvores
53.Sentir o alívio de 'missão cumprida'
54.Assistir cavalo comer grama
55.Ver um monte de flores reunidas
56.Céu acinzentado.
57.Viciar numa banda.
58.Ver meu pai cortar as unhas com cortador, tesoura ou canivete
59.Sentir dormência na língua por causa de pimenta
60.Sentir jabuticaba e uva estourar dentro da boca pela pressão dos dentes.
Com certeza esqueci de muitas outras coisas.
domingo, 1 de agosto de 2010
Dourando pílula
Museu do Inhotim - Brumadinho. O jardim foi projetado pelo Burle Marx
(Foto: Vinícius, colega de viagem)
(Foto: Vinícius, colega de viagem)
Às vezes parece que a natureza só está por aí no mundo afora pra disfarçar o INFERNO que tudo é e sempre foi. É como se se eu puxasse a lasca de uma casca de árvore tudo desmoronasse e mostrasse o que realmente existe por trás da paisagem idílica. E funciona mesmo: parques, por exemplo, me acalmam e me deixam deslumbrado. Na Segunda, na Terça e na Quinta-feira da semana retrasada eu fui em um (não é o da foto). Sozinho mesmo e vulnerável a tudo eu li, bebi, comi, olhei, observei, pensei, lembrei de pessoas que me fazem tanta falta (T****), dormi na grama, ouvi música, me encantei com os verdes ...
Come closer don't be shy / Think of me as a train goes by
God took the stars and he tossed 'em
Can't tell the birds from the blossoms
You'll never be free of me / He'll make a tree from me.*
2. Dias melhores are about to come, mas o de hoje ...
3. Se eu fosse você, eu leria isto: "Então Aceitamos".
4. Se eu fosse você, eu assistiria a isto: "Para ver as meninas".
--
* Green Grass - Tom Waits and Kathleen Waits-Brennan
** Para ver as meninas - Paulinho da Viola
Lay your head where my heart used to be / Hold the earth above me
Lay down in the green grass / Remember when you loved me
Lay down in the green grass / Remember when you loved me
Come closer don't be shy / Think of me as a train goes by
Stand in the shade of me / Things are now made of me
God took the stars and he tossed 'em
Can't tell the birds from the blossoms
You'll never be free of me / He'll make a tree from me.*
1. "Não diga nada sobre meus defeitos. Eu não me lembro mais quem me deixou assim".**
3. Se eu fosse você, eu leria isto: "Então Aceitamos".
4. Se eu fosse você, eu assistiria a isto: "Para ver as meninas".
--
* Green Grass - Tom Waits and Kathleen Waits-Brennan
** Para ver as meninas - Paulinho da Viola
terça-feira, 6 de julho de 2010
I need a Polaroid
Robert Doisneau - Un Regard Oblique,1948
"It's in your reach... concentrate" *
If you think about everything you haven't done yet in your life, and feel a concrete dismay coming up, like someone who's just been aware about having to work all along the holiday with no right to breaks, and if the weariness is substantial - and so is the desire for valium - you read:
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
Dorme, meu filho. **
Now, if you feel there must be something wrong about you when you're walking down the streets rubbing hands and arms, now and then, for knowing not where to put them and for being ashamed of yourself, while you're listening to Colleen's "shoot-me-dead"-like instrumental songs on your iPod, then you probably also think about this:
I read a book about the self
Said I should get expensive help
Go fix my head
Create some wealth
Put my neurosis on the shelf ***
Said I should get expensive help
Go fix my head
Create some wealth
Put my neurosis on the shelf ***
Dever de casa pra você que se encaixa: Tirar leite da pedra.
--
*Placebo - Passive Agressive
** Drummond - Consolo na Praia
*** Placebo - Blue American
quarta-feira, 30 de junho de 2010
"Estamos indo de volta pra casa ..." - from facul'
Eu gosto tanto,tanto dessa foto... Willy Ronis - Praga , 1967.
19h30, aproximadamente. Eu bem que podia voltar a pé do centro pra casa. Tomara que esse ônibus chegue logo. Olha quem tá ali... hummm, vai entrar primeiro. Entrou. Minha vez. Roleta. Bancos da fileira esquerda. Vento frio. Vou fechar a janela. Já vai descer... desceu. Que curva gostosa. É bom ficar encostado nessa poltrona. Balanço bom, dá sono. Desço ou não desço aqui? Desci. Vou comprar um chocolate de presente. “Fulana tá aí?” “Não, foi pra faculdade.” “Entrega pra ela por favor?” “Entrego sim, pode deixar.” O senhor tá bem?” “Rapaz, tomei gelado e fiquei com dor de garganta. Já faz 5 dias.” “Remédio, cê tá tomando?” “Tomei, mas antibiótico não. Parei de tomar aquilo.” “É um arraso pro organismo, não é?” “É, e vicia!” “Ah, é, vicia também!” Ele tá olhando pra baixo, é hora de despedir. “Então tá bom, cê entrega pra ela por favor?” “Entrego, entrego sim.” “Ok, boa noite, até mais.” “Boa noite.”. Vou lá naquela lanchonete. Se estiver vazio, sento e como, senão, compro e saio. Vazio! “Essa torta é de frango com catupiry?” “Uhum” “Me dá uma.” Vou sentar longe deles. Ih, mas tem mais aqui. Vou estragar o lance. “Vai tomar alguma coisa?” “Vvvvv... não”. Vieram dois sachês de ketchup, ótimo. Hmmm, tá gostoso. Esse lugar me lembra a T****, mas o que não me lembra ela?! ... Ai, hora de levantar. “R$3,90”. Já tá nesse preço? “Cobre um ‘ouro branco’” “R$4,90” “É R$1,00???, então não quero”. Pode fazer cara feia que hoje eu não ligo mais pra isso. Absurdo! Ventinho bom aqui do lado de fora. Quero comer mais. Padaria. “3 mini-empadinhas, 3 mini-bolinhos de queijo. Não tem coxinha?” “Não, mas tem bolinho de mandioca... tem pastelzinho de carne.” “Não, obrigado. Só isso mesmo”. “Quer que esquente?” “Quero, mas bem pouco” “Aqui está. Boa noite, obrigada.” “Obrigado você, é educada e atende bem.” “Obrigada” “Nada. Tchau” “Tchau”. “Tem ouro branco?” “Não” “Então quero um Serenata”. “Deu tanto”. “Obrigado” “De nada”. Que delícia essa empadinha. Mas vou provar do bolinho também. O que estiver mais gostoso deixo por último. Hmmm, tá melhor o bolinho. Vou comer a empadinha então. Tomara que eles não me peçam. Empadinha boa! Hm... bolinho gostoso! Como um iPod com bateria recarregada faz falta. How to disappear completely combina tanto com essa solidão flanante e noturna... e Devendra aqui também cairia tão bem. Vou entrar nessa rua. Não, na de cima. Saco... na próxima acima. Que vontade de 'xixizar', rs. Nossa, moitinha perfeita. Merda de moto. Nunca faço isso, por que hoje? Instinto? Hm, ali... voyeurismo da iminência de ser visto fazendo algo que só se faz de porta fechada. Escorreu pro murro. Tô nervoso. Olha, fiquei excitado! Gostei disso. Preciso repetir algum dia. Ih, essa é a rua da Fulana. Será que vou ser assaltado? É bem quieto aqui, que paz. Cidade grande talvez seja difícil de andar assim. Tomara que eu não encontre ninguém. Veja quem tá ali... pergunta rápido, pergunta rápido! “Tem trident?” “Não”. Pare de olhar rápido. Finalmente vi aquela boca de perto. Perfeita. Minha nossa! Olha os olhos! Academia. Saudade de academia, mas aquelas músicas... Vou entrar nessa farmácia. Chocolate. Drops de Frutella de morango com creme. “Deu tanto” “Obrigado” “De nada, boa noite”. Não me importa que você me olhe comer na rua. Mocinhas de porta de igreja? Com essas caras? Sei... Noooossa Senhora! ... Ah, não... eu preciso de uma coisa dessas, só pra mim. Quanta carência. Olha a beleza! Vê como senta! Os olhos fixos. Nem me vê. Pele pálida! Pare de olhar! Aqui costumava ser um armazém. Gregor Samsa, que fazes tu esmagado no chão, 'homem'? rs. Foi G.H. que te fez isso, foi? rsrs. Ops, voooolta porque se não comprar fanta vai se arrepender. Será que tem nessa padaria? Ih, só Sukita. Vai esse guaraná pequenininho aqui mesmo. Tomara que esteja geladinho. Hmmm... geladinho. Hmmm, gostoooso. Ahhh não... casa? ... É, casa. Pelo menos tenho, é reconfortante. É seguro. Que bom. Tente agradecer mais vezes. Quanta porcaria comi. Mas me faz tão bem! (As pancadas ela esquecia pois esperando-se um pouco a dor termina por passar; Mas o que doía mais era ser privada da sobremesa de todos os dias: goiabada com queijo, a única paixão na sua vida*).
Filmes dos últimos dias: Juventude; Noivo Neurótico Noiva Nervosa; No limiar da vida; Drawing Restraint 9 (pela terceira vez); Manhattan; Zelig; Bastardos Inglórios; Morangos silvestres. Rebecca (dormi na metade... tenho que terminar).
Amanhã, 1º de julho, aniversário da Marisa Monte. Ela já cantou muito pra mim e me apresentou música brasileira muito boa. Feliz Aniversário.
--
* A Hora da Estrela.
Amanhã, 1º de julho, aniversário da Marisa Monte. Ela já cantou muito pra mim e me apresentou música brasileira muito boa. Feliz Aniversário.
--
* A Hora da Estrela.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
David Lynch
David Lynch e seus cabelos de "Tieta nas dunas do agreste".
Eu conheci o David Lynch da pior maneira possível: assistindo o filme Twin Peaks. Não entendi bosta nenhuma e fiquei com aquele gosto de “é só isso?” na boca. Descobri que era um filme baseado num seriado homônimo criado por ele. Depois eu vi O Homem Elefante e, a não ser pelo personagem-aberração, não encontrei a estranheza que todo mundo falava. Nem gostei do filme, pra ser sincero, a não ser pelo tratamento cuidadoso do preto e branco. Isso foi no final de 2008. Essa semana eu resolvi dar uma chance a ele (olha como sou bondoso, rs!) e fiz uma maratona David Lynch. Foram 4 filmes, um por dia. Como eu acho que resumo do enredo torna o filme bobo, só vou contar mesmo as minhas impressões, como no post anterior:
Inland Empire (2006) – Um filme mais para sentir do que para entender. Se eu tinha alguma dúvida da genialidade do David (intimidade), ela terminou em Inland Empire. E se eu achei Lost Highway a maior doideira, é porque eu ainda não tinha assistido este aqui. Foram três horas de filme e eu nem percebi. Muita tensão. A Laura Dern tem a mesma expressão o filme inteiro e isso incomodou um pouco. O começo do filme é até compreensível: uma atriz de Hollywood cuja vida se mistura com a da personagem de um filme que fará. Passados alguns minutos, é difícil saber qual cena é da vida da atriz e qual é a da personagem que ela representa. A câmera de mão deixa a impressão de algo caseiro e amador, cru, tipo Lars von Trier. O diretor ainda encaixou, no filme, uma série muito sinistra de curtas chamada Rabbits (tem no youtube), que mostra 3 pessoas com cabeças de coelho (aparentemente uma família: mãe,pai e filha) dizendo, com vozes em off, falas nonsense. Cronologia completamente embaralhada. Já não tenho certeza se Lost Highway é meu preferido. Cena marcante: a morte da protagonista que logo se revela apenas gravação do filme (metalinguagem).
Lynch não tem nada de sobrenatural. O que ajuda no suspense é a trilha sonora do Angelo Badalamenti, os cenários sombrios e as expressões de medo, de terror, de desespero, e de incompreensão dos personagens que vivem numa constante atmosfera de pesadelo.
Sabe quando você lê ou assiste a uma série e fica triste quando acaba? Então, fiquei assim depois que acabou Inland Empire, porque eu estava inteiro na onda do Lynch. Chapadão! Não vai ser a mesma coisa mas eu ainda posso assistir Wild at Heart, Eraserhead e o seriado Twin Peaks pra completar essa experiência incrível e que eu recomendo a todos que não tenham preguiça de um cinema menos convencional.
Assisti mais 3 filmes: um antes, um durante e um depois dos de Lynch:
Sede das Paixões (1949) – Bergman. Se comparado aos outros dele, é bem fraco. Mas continua sendo melhor do que muito filme do mesmo gênero por aí. Mulheres histéricas, mulheres traídas e, como sempre, uma relação “sáfica”, que ele adora colocar nos filmes.
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my fair lady,
sede das paixões.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
O balanço do Corpo de Cristo
Screenshot de Hiroshima Mon Amour
Neste feriado de Corpus Christi:
True Blood – Últimos e chatos episódios da segunda temporada, que apesar disso foi boa. Acho que não precisava de zumbi. Ficou tão feio. E poderia ter aparecido um Baphomet mais caracterizado, pelo menos, com asas, pernas de fauno e tudo que tem direito. Mas por que sempre colocar outros seres sobrenaturais quando se fala em vampiro como se todos fossem farinha do mesmo saco?
Brothers and Sisters – Quase a 1ª temporada inteira. Eu acho roteiristas de séries tão criativos! Gostaria de ser inteligente como vários personagens criados por eles, mas ser educado em essência, porque a maioria é frígida e ácida demais. Quanta gente bonita. Olha a Rachel Griffiths ali! (Brenda - Six Feet Under).Família inteira bonita. E tudo bem triste, mesmo quando estão em paz. São aflições concentradas em 40 minutos de episódio.
Brothers and Sisters – Quase a 1ª temporada inteira. Eu acho roteiristas de séries tão criativos! Gostaria de ser inteligente como vários personagens criados por eles, mas ser educado em essência, porque a maioria é frígida e ácida demais. Quanta gente bonita. Olha a Rachel Griffiths ali! (Brenda - Six Feet Under).Família inteira bonita. E tudo bem triste, mesmo quando estão em paz. São aflições concentradas em 40 minutos de episódio.
Irmão urso – Gostoso de assistir, leve, bem desenhado, engraçado aqui e ali, empatia como palavra-chave. Mas rasinho feito água de batata, história pouco densa e que servia pra qualquer outro ambiente e animal, não só para uma cultura ancestral e tribal como a que serviu de background. Desses novos desenhos da Disney, gosto de Mulan (vulgo ‘mulambo’,rs), talvez pelas cores, mas prefiro os antigos mesmo, em technicolor.
Sempre ao seu lado – Estava dando sopa aqui em casa e eu pensei: vou treinar listening. Coloquei sem legenda. Um cachorro que vem do Japão, se perde na estação e é encontrado por um professor. Os dois se tornam companheiros e o cão se mostra leal... (paciência...)... queria ver se faria sucesso sem o Richard Gere. De qualquer forma, foi gostoso assistir. Não tem que pensar em nada, só se entreter.
Preciosa – Feia, obesa, negra, pobre, triste, 17 anos e grávida do próprio pai pela 2ª vez. (Cristiane F. rs). Apanha da mãe, que não faz nada e vive de dinheiro do governo. Bom pra valorizar o que se tem. Gostei muito do filme. Me amarro em ambiente de escola. Mariah Carrey como assistente social e Lenny Kravitz como enfermeiro? What the fuck?
Hiroshima mon amour – Tem um programa no canal Futura destinado a filmes antigos. Um dia passou um chamado "Mon oncle d"Amérique" e eu gostei tanto que quis assistir outros do mesmo diretor, o Alan Resnais. Um amigo me indicou "Hiroshima..." . Os diálogos parecem prosa poética. Acho que eles sobreviveriam até mesmo sem as cenas do filme (que são tão bonitas também!). Foram escritos pela Marguerite Duras. Depois dizem que eu não gosto de romance. Assim eu gosto! E preto e branco é um descanso pr'as vistas, não é?
Madadayo – 2 horas e 15 minutos de vida perdidos. Precisava daquele drama todo por conta de um gato ? (Se fosse o de cheshire pelo menos). Um curta metragem era o suficiente. Que arrependimento! Não espanta eu ter tido indigestão e dor de cabeça pelo resto da noite.,rs Sa-ca-na-gem, hein, Tio Kurosawa?!!! Nem "Rapsódia" foi tão vazio, e nem "Rashomon" foi tão chato, e nem "Os Sete Samurais" foi tão longo. E "Sonhos" é mesmo um sonho de tão bonito!
The Matrix – Tinha assistido duas vezes na televisão, mas era dublado, tinha intervalos, não vi até o final e nem com atenção. Agora foi pra valer, entendi, gostei e tudo. Estudei pra um concurso que exigia conteúdo de informática (hardware, software, segurança, etc) e isso foi bem providencial pra fazer outra interpretação. Que filme genial. Filosofia, literatura, bíblia, tecnologia, contemporaneidade. Não importo de ter visto tanto tempo depois. Me veio num momento oportuno.
The Matrix Reloaded – Gostei muitíssimo também e tive que rever a parte do arquiteto 3 vezes pra entender. Super bem escrito. Melhores cenas de combate da trilogia. Um quê de Tarantino motherfucker pelo exagero mangá. Bem legal.
The Matrix Revolutions – Um erro. Um exagero. Mistura de Dragon Ball Z com Power Rangers e Independence Day.
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sexta-feira, 14 de maio de 2010
Pedindo um Hambúrguer
Sophie Calle - Douleur Exquise
Acaba de me acontecer uma situação engraçada, tanto que não resisti e vim contar. Liguei para uma lanchonete e pedi um hambúrguer. Uma mulher me antendeu:
Ela: Fulano Lanches, boa noite!
Eu: Boa noite, eu quero um X-bacon.
Ela: X-bacon, que você quer dizer, é bacon com...
Eu: Queijo.
Ela: Mais o que, querido?
Eu: Uma fanta laranja em lata.
Ela: Ok, aguarde só um instante que eu vou somar pra você, paixão.
Eu: Paixão? kkkkkkkkkkkkk.
Ela: Haha, desculpe, sempre chamo todo mundo de paixão.
Eu: Ok,rs.
Ela: Deu R$10,40.
Eu: Sério? Tá mais caro que da outra vez. Quanto é o lanche?
Ela: R$6,80.
Eu: Bem, isso tá certo. E a entrega?
Ela: R$2,00.
Eu: Ah, é isto. Me cobram só R$1,00 porque meu bairro é perto.
Ela: Hmm, me desculpa, é que é a segunda vez que eu estou atendendo, sou nova aqui. Então vai dar R$9,40.
Eu: Ok, quero troco pra R$10,00.
Ela: Tudo bem. Qual o seu nome e endereço?
Eu: Fulano de tal, rua tal, número tal, bairro tal.
Ela: Muito obrigada, boa noite.
Eu: Boa noite, paixão, kkkkkkkkkkkk.
Ela: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Hoje eu mal estudei porque...
Parte I - O Silêncio Pesa ¹
Eugênio Recuenco
Se me fosse concedido um desejo hoje, então eu pediria para ficar sem voz, expressão facial, dedos para digitar, ou qualquer ferramenta inerente a mim que provocasse algum tipo de reação nas pessoas. Acho que elas agradeceriam e eu me sentiria mais leve. Pisar em casca de ovos é terrível - assim como não medir o que se fala.
O cérebro devia ter cotas diárias para controlar a contingência de sentimentos. Ex.: "Você só pode se arrepender de 2 coisas por dia, Senhor X". Isso me ajudaria a remoer menos o passado.
Até que hoje não estou com vontade de levantar o dedo do meio, nem pedir desculpas a ninguém. Só queria mesmo fazer uma coisa de cada vez, me concentrar bem, dar atenção e carinho às pessoas, mas também selecioná-las. 50 - 50 : metade de mim fala mais do que deve; metade foi procurar amigos como quem faz compras no supermercado de estômago vazio e pega tudo que vê pela frente. A conta fica maior que o orçamento e a burocracia para devolução é um hell.
Parte II - A Alma e a Matéria ²
Francis Bacon - Auto-retrato (1971)
Aborto feito feto evacuado. Gozado. Escarrado. Cuspido. Assim: imundo. Sujismundo. Menstrumijado. Coberto de grossa camada de pegajoso sebo envolvendo o corpo – essa porção própria de mundo.
Alma sorvida com virilidade. Alma regurgitada e ejaculada em forma de líquido gástrico. Concretizada em gosma coalhada e azeda. Pó antropomorfizado com sentimento de retorno ao pó e às substâncias primárias inconscientes de si.
Lista de supermercado:
seção de frutos proibidos
colhidos da árvore da vida:
o pau, a buceta,
o cu, a teta.
seção de frutos proibidos
colhidos da árvore da vida:
o pau, a buceta,
o cu, a teta.
Penetra a carne morta e a devora. Sente o sabor do sumo do qual o corpo impregnado está. Jatos de sêmen perolado, sangue escarlate: leite rosado. Nauseabundo. Prazer de pequenas mortes. Éden e Hades portáteis – compactuantes – em três ou quatro segundos do pecado mais sagrado banhado por chuva dourada torrencial. Il pleut³. Por chuva dourada torrencial. Il pleut. Chuva ... dourada ... tor ... ren... ci... al... depois chora.
--
1 Tradução de "Le silence pèse", verso do poema "Petit Chat" - Manuel Bandeira.
2 Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown (mas não faz parte de Tribalistas)
3 Título de um poema de Apollinaire.
4 Creditar um texto assim é redundência, não é?
domingo, 25 de abril de 2010
Para quem sabe ler, pingo é letra.
Detalhe de "Baco" - Caravaggio
"Se uma águia fende os ares e arrebata esse que é uma forma pura e que é suspiro de terrenas delícias combinadas; e se essa forma pura, degradando-se, mais perfeita se eleva, pois atinge a tortura do embate, no arremate de uma exaustão suavíssima, tributo com que se paga o vôo mais cortante; se, por amor de uma ave, ei-la recusa o pasto natural aberto aos homens, e pela via hermética e defesa vai demandando o cândido alimento que a alma faminta implora até o extremo; se esses raptos terríveis se repetem já nos campos e já pelas noturnas portas de pérola dúbia das boates; e se há no beijo estéril um soluço esquivo e refolhado, cinza em núpcias, e tudo é triste sob o céu flamejante (que o pecado cristão, ora jungido ao mistério pagão, mais o alanceia), baixemos nossos olhos ao desígnio da natureza ambígua e reticente: ela tece, dobrando-lhe o amargor, outra forma de amar no acerbo amor." ¹
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¹ "Rapto" (Adaptado do formato de poema para prosa) - In: Claro Enigma - Carlos Drummond de Andrade. .
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Rufus Wainwright - All days are nights
All days are nights: Songs for Lulu (arte da capa)
Foi pelo “Release the Stars” (2007) que eu conheci o Rufus e depois escutei o resto do trabalho dele. Desde então (a não ser pela tournê que fez com músicas da Judy Garland) não lançou mais nada. Eu estava com saudade de coisa nova. A mãe dele, Kate McGarrigle, morreu em janeiro deste ano e o novo álbum é meio que um réquiem ou homenagem a ela. Todo composto para voz e piano, “All Days are Nights: Songs for Lulu” tem um tempo de duração equilibrado, 48 minutos. Isso ajuda a não deixá-lo cansativo. Tive uma primeira impressão ótima do álbum. Pra quem não suporta a voz do Rufus, sinto informar que continua a mesma. A boa notícia é que dá pra ouvir pouquíssimas daquelas sugadas de ar típicas dele. As letras e o clima são tristes, mas a voz e o piano são fortes. Nunca o ouvi tocar com tanta vitalidade. Parece que ele fez mesmo o trabalho que sempre quis. Se existe um toque de pop me avisem, porque eu só consegui escutar acordes complicados, semitons, uma pitada de dissonância quase experimental e contratempos. Nada de melodias fáceis de assimilar. Destaque (com marca texto verde,rs) para a trilogia dos sonetos de Shakespeare, não por ser algo inédito alguém cantar poemas, até porque não é mesmo, mas porque foram musicados bela e tristemente. Triste pra mim, em música, é elogio forte. Não sou emo, não, senhor(a)! É que sempre me parece que as músicas tristes não têm pressa de serem executadas. E pra quem tem paciência e tempo de parar pra ouvir, são degustadas de maneira bem melhor. Ah, e ele canta uma música inteira em francês (eba! Já estava me cansando de Complainte de la Butte). E acho que ouvi a tampa do piano (caixão da mãe?) sendo fechada no final silencioso da última música.
Edit (12 de Abril): Depois de ouvir mais algumas vezes o álbum todo, eu não dou mais tanto destaque para os poemas, e sim para outras músicas: a que ele escreveu pra mim,rs:"So sad with what I have"; A desesperadora "Martha"; a 'placíbica' "What would I ever do with a rose" (como assim how it would ever get me high?); e Zebulon (where have you been zabulon - isso me lembra "Por onde andará Stephen Fry/Dulce Veiga. Freedom is apparently all I need. But who's ever been free in this world?). A que eu menos gostei é a saltitante e que tem título de 'eu sou mimado' "Give me what I want and give it to me now". As letras talvez nem sejam tão tristes assim. Estão tratando de assuntos menores, ou então é a impressão que eu tive quando me lembrei das outras letras dele, que falam sobre cidades e monumentos, coisas mais abrangentes e megalomaníacas. Agora ele está... sereno, íntimo, minimalista. É, é isso.
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quinta-feira, 8 de abril de 2010
Kurosawa ou krueger? where's Freud numa hora dessas?
Instalação de Ernesto Neto
Há 2 meses sonhei que um velho louco, de barba e cabelos longos (não era o Gandalf, nem o Dumbledore, nem Deus) me disse que não se desfaria da barba até que tivesse coragem suficiente para enfrentar o próprio medo (pfff, Paulo Coelho me persegue? Sai, sarna.rs). Ele me levou ao segundo andar da casa por um curto lance de escadas, abriu a porta e me mostrou uma aranha enorme, que imediatamente saiu da teia onde estava para se rastejar sobre ele de cima a baixo várias vezes. Ele, de braços abertos, ria loucamente. A aranha desceu as escadas e andou por todo o cômodo. E eu, ao lado do velho, morria de medo. Na hora que acordei, cantei, instintivamente (rs) :
When will you do what you say you'll do?
How could you really do it?
Will you keep on running? Baby settle down
Will you keep on running? You'll lose your home
Will you keep on running? Baby settle down
Will you keep on running?
Run on, run on. You'll rule your den.
Got me to crawl on baby with the grass was very high
Just keep on crawlin’ till the day I die
Crawlin’ black spider
Crawlin’ black spider ¹
How could you really do it?
Will you keep on running? Baby settle down
Will you keep on running? You'll lose your home
Will you keep on running? Baby settle down
Will you keep on running?
Run on, run on. You'll rule your den.
Got me to crawl on baby with the grass was very high
Just keep on crawlin’ till the day I die
Crawlin’ black spider
Crawlin’ black spider ¹
***
Há 3 semanas sonhei que havia uma única teia de aranha que se sustentava nas paredes de um cômodo da minha casa e se alastrava para outros cômodos, passando dos limites da porta. Nela, algumas poucas aranhas grandes, várias filhotes. Alguém me explicou no sonho: “Então você arranca toda ela da parede e usa rapidamente porque a essência, o sumo, dura pouco tempo (e os finos fios, à medida que eram arrancados, ficavam grossos como um intestino por não estarem mais esticados). Me lembrei, mais tarde, do Ernesto Neto, que tem instalações ‘labirínticas’, algo meio Shelob’s lair ², de movimentos caóticos, e que lembram também as teias que 'vi'.
Receita para o sonho: Antes de dormir, coma arroz, feijão e ovo.
Receita para o sonho: Antes de dormir, coma arroz, feijão e ovo.
***
Há algumas horas tive sonho ‘pot-pourri’, daqueles que de segundo em segundo a cena se modifica e, quando acorda, você se lembra de poucas. Então o de hoje foi assim: 1. Eu, deitado no chão de um local coberto, apoiava as penas em uma cobra que se estendia do teto ao chão formando colunas verticais e horizontais, enquanto eu esperava um amigo, que marcou compromisso mas não apareceu. 2. Um filho planejava o assassinato do pai. 3. Eu, em posição plongée, via muito sangue escorrer do tronco de várias árvores e formar, rapidamente, um rio.
Receita para o sonho: Algumas horas antes de dormir, devore uma porção grande de yaksoba.
P.S.: Acordei com os pés gelados e sentindo um vento frio. Não era febre. Fiquei muito feliz pois pude vestir, pela primeira vez no ano, e depois de muito tempo, uma blusa de mangas compridas bem quentinha. Esse clima me deixa muito bem.
--
¹ Cat Power - Keep on Runnin'.
² Toca de Shelob (ou Laracna), a aranha velha de "O senhor dos anéis".
quarta-feira, 31 de março de 2010
Les enfants terribles
Vee Speers - The Birthday Party
Então, é o seguinte:
1. Eu, concentrado, circunspecto, almoçava, quando vi minha sobrinha, que já tem quase cinco anos, pegando no garfo com destreza, copiando movimentos adultos, misturando rapidamente a comida simples que lhe fora imposta desde indigente de mente, comendo, rindo, sem reclamar. Saí da mesa chorando.
1. Eu, concentrado, circunspecto, almoçava, quando vi minha sobrinha, que já tem quase cinco anos, pegando no garfo com destreza, copiando movimentos adultos, misturando rapidamente a comida simples que lhe fora imposta desde indigente de mente, comendo, rindo, sem reclamar. Saí da mesa chorando.
Get over the sorrow, girl
The world is always going to be made of this ¹
2. Eu estou fazendo estágio. Eu dou aula para crianças de 9 e 10 anos. Eles me perguntam coisas simples. Eu respondo. Eles se espantam porque eu sei. Eu me espanto com a inocência. Eu me entristeço com a inocência. Eu tenho dó de mim por ter muita, muita dó deles. Eu tenho vontade de abraçar cada um e pedir desculpas. Não sei pelo que, mas desculpas. E pedir que me entendam. E que não me julguem. E que me ajudem a superar o dia.
All the stillborn love that could have happened
All the moments you should have embraced
All the moments you should have not locked up ²
All the moments you should have embraced
All the moments you should have not locked up ²
3. Pensadores do mundo inteiro podem me trazer frases de efeito sobre a infância em enormes cornucópias. Que os infantes sabem de tudo. Que são professores para os adultos. Que são etc. Nenhuma, mas nenhuma mesmo, me serve hoje. Nem considero que sirva a eles. Tenho pena porque...porque alguns deles podem ter uma experiência dolorosa de vida que muitos têm. Pão na mesa mata fome da carne. E só. Eu poderia ser a pessoa mais feliz da minha geração se isso fosse o suficiente.
To shut yourself up
Would be the hugest crime of them all
Hugest crime of them all
You're just crying after all
To not want them humans around any more ³
Would be the hugest crime of them all
Hugest crime of them all
You're just crying after all
To not want them humans around any more ³
--
¹ Björk - Pneumonia.
² Idem.
³ Idem.
domingo, 28 de março de 2010
Dominique A - La Musique
Foto: minha.
Descobri, anteontem, um cantor chamado Dominique A, baixei “La Musique” (2009), gostei. Acho que finalmente encontrei algo mais degustável desde que me indicaram Noir Désir. Aí vão as as primeiras impressões:
01 (Le sens) – Palminhas eletrônicas. Tumtum-tá - Tumtum-tá. Andam fazendo versões da letra de “I’ve seen it all” direto do Björkês. Rsrs. (J'ai tout essayé / J’ai voyagé, j’ai cru / J’ai nagé nu / mais bien sûr si j'y pense / tout ça n'a pas grand sens. / Peut être ne suis je pas né / peut être ne suis-je qu'absence / tant que ne m'est pas donné le sens*)
(E se tudo o que se sente, pensa, vê, tateia, escuta, não passar de artifícios da mente? O que há para me garantir que o que se chama de existência de fato existe num plano real? Por que é que ações como conversar, escrever, “tocar as chagas”, me dizem que eu vivo?” E aí me contaram que algum filósofo (é, não me lembro qual) disse que a gente pode estar vivendo um constante sonho. E depois eu li “A Náusea” do Sartre, me senti em casa, mas também mais confuso, porque comecei com uma pergunta e terminei com 1000.)
02 (Immortels) – A letra é do Aquiles?(Tróia) rs. Ou então ele está se achando “O elfo tolkieniano”. (je ne t'ai jamais dit / mais nous sommes immortels. / Le savais tu déjà / avais tu deviné / que des dieux se cachaient / sous nos faces avinées**) Sou só eu que vê vampirismo em tudo? (Et qu'il y avait du sang / qui ne sècherait pas / tu me donnais la main / pour boire de ce sang là***)
03 (Nanortalik) – Na hortaliça. Rsrs. Mistura de Legião com Morrissey. Existe? Contrataram um elefante pra fazer backing vocal! kkkkkkkk. Pelo menos samplearam.
04 (Qui-es tu?) – Voz etérea, distorções ‘ETéicas’, letra ‘aliceana’. “Quem é você?, perguntou a Lagarta”. (Mais qui es-tu? / Mais qui es-tu? / Mais qui es-tu? ' ). Enigmática.
05 (Hasta (que el cuerpo aguante)) – Violão tá nervosinho, tá? Tenho preconceito contra frases em outro idioma na música. Ou tudo ou nada. E ainda me vem com espanhol,rs. “il ira, ira, ira ira, hasta que el cuerpo aguante”.
06 (La musique) – Ritmo bom. Bem, bem séquissi, rs. Não consegui entender uma frase inteira sequer, mas a música é boa. Garanto.
07 (Je suis parti avec toi) – Jack Johnson puro nos primeiros 5 segundos. Agora mudou bastante. Efeitos tipo guitarra bem suja (Mansoooooon huahua), batida de lata. Muito, muito ritmo! (Je suis parti avec toi sans te le dire, un beau matin / Et je ne t'ai jamais rejoint / Ni plus jamais touché tes doigts / A chaque endroit où tu allais...' ' ). Jacques Prévert(Le déjeuner du matin), Placebo(Follow the cops back home), Mr. & Mrs. Smith.
08 (Le bruit blanc de l'été) – Ah não, tudo menos calypso! rsrsrsrs. Até que se fosse “O barulho branco do inverno” eu entenderia melhor a sinestesia, mas “do verão” não entendi. Eu acho que ele teve uma “bandescência” (banda de adolescência) mal resolvida. Tá querendo ser jovem com esse sonzinho. Mas ok: bem legal de ouvir.
09 (Des étendues) – Chanson triste! Sons pra viajaaaaar em souvenirs... *balança a mão pra lá e pra cá and cryyyyy, eminho malacabado, cryyyyy* kkkkkkk.
10 (Les garçons perdus) – Viu, não é só o D2 que canta sobre favela,rsrsrs. (Tous ces garçons perdus ne rient jamais / Ils jettent pierre' ' '). São doidos de pedra. Rufus “... or scrappy boys faces have general run out of town” (Cigarretes and chocolate milk), Peter Pan (the lost boys).
11 (Hotel Congress) – Deve ser o mesmo Hotel de ‘O Iluminado’ (Kubrick), ou então o ‘California’ (Eagles), ou ainda o Atlântico (Noll). Voz de tele-sex. Arranjo triste. Toquinho de música de exército. Três acordes apenas fazem muito. ('You know, my friend, sometimes less is more' - Molkito tirando pateticamente o Groisman,rs)
12 (La fin d'un monde) – Tango!!! Na primeira ouvida: ótimo. Depois, detectei um sotaque árabe,rs. Gosto de música árabe, mas somente quando sei que é! Rs. Fecha com chave de “existencialismo” escatológico: (Dans la lueur du soir / Tu auras vu la fin d'un monde / En attendant plus tard / Occupe toi des prochaines secondes' ' ' '). * Edit. 02/04/2011:
--
* De tudo experimentei/viagei,cri/nadei nu/mas quando penso nisso/nada faz muito sentido./Talvez eu não tenha nascido/talvez eu seja apenas ausência/por isso não me foi dado o sentido. ** Eu nunca te disse/mas somos imortais./Você já sabia/adivinhou/que os deuses se escondem/atrás de nossos rostos bêbados *** E que havia sangue/que não secaria/você me deu a mão/para beber daquele sangue. ' Mas quem é você? Mas quem é você? Mas quem é você? ' ' Eu saí atrás de você sem te dizer, numa bela manhã/E não voltei a me juntar a ti/nem sequer tocar seus dedos/em cada lugar que vais... ' ' ' Todos estes garotos perdidos não riem jamais/Eles jogam pedra. ' ' ' ' Na luz do entardecer/Tu verás o fim de um mundo/Ao esperar mais tarde/Ocupe-se dos próximos segundos. ' ' ' ' ' No fundo de um armário / Fotos como indagações.
(Esse esquema de comentário sobre um disco é inspirado no do blog de uma pessoa querida que ... 'partiu'.)
(Esse esquema de comentário sobre um disco é inspirado no do blog de uma pessoa querida que ... 'partiu'.)
quarta-feira, 24 de março de 2010
Se você quer, tome. Quer, quer? Tome, tome, tome, rs.
Foto: Chema Madoz - Book
Às vezes, me empolgo tanto com algum disco ou livro, que, mal a pessoa pede emprestado, eu logo entrego. Em 2007, depois de ter lido umas peças do Oscar Wilde, comprei "O Retrato de Dorian Gray", único romance do autor. Em 2008, emprestei para uma pessoa que se mostrou interessada no livro e confiável (tanto pela maturidade do papo quanto pela idade, pois tem pouco mais de 30). Ela enrolou pra ler e perdemos o contato pessoal. Passamos a nos comunicar somente por MSN. De mês em mês, uma janela pulava aqui na tela dizendo assim: “Tenho que devolver seu livro”. Ontem, veio falar de novo. Mas depois de 2 anos, só Paulo Coelho e Augusto Cury juntos pra terem esperança. Então, transcrevo aqui a cordial conversa:
Pessoa: Oi, td bem? tenho que te devolver seu livro
Moi: Não precisa, já comprei outro.
Pessoa: tenho um livro bacana do osho. acabei de ler. se vc quiser eu levo pra vc.
Obrigada pelo presente rsrs.
Moi: Presente? não, é que eu desisti mesmo.
Pessoa: PODE DEIXAR QUE JOGO NO LIXO, NAO SE PREOCUPE. VC APRENDEU A SER GROSSO, OU SERA QUE SEMPRE FOI? SE ACHAR QUE DEVO ALGUMA COISA PODE COBRAR QUE EU PAGO. VA SE FERRAR.
Depois de ficar com a boca aberta por uns 10 segundos, eu pensei: "É, acho que aqui se finda mais uma 'amizade' ". Parece que eu estou cada vez mais habilidoso com as pessoas, rs.
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sexta-feira, 19 de março de 2010
De amor e trevas
Big brother abuses your litlle bro...- Vitor Hugo Borges
Disponível em: http://maliboo-stacy.deviantart.com/art/oldbrotherabuse-936791
Uma pessoa me contou ontem que não tem sido fácil viver em casa. Impuseram-lhe toda a responsabilidade financeira e ela pensa em morar sozinha, mas o medo da reação de pessoas que não têm nada com a vida dela exercem influência decisiva. Não a julgo, entendo perfeitamente. Enquanto conversávamos, me voltou o desejo de mudar. Mudar de vida, de espaço. Passar a viver com vontade e coragem que nunca tive. Ser importante para alguém que tenha saído do meu plano platônico.
*
Ligando minha cintura e o alicerce central da minha casa, existe um espesso elástico. Não importa quão longe eu vá, o retorno é certo, ainda que no esforço da ida e na luta contra o regresso eu arraste comigo, à força, e por desespero, objetos e vivências que me certificam de que não foi uma vã tentativa de desprendimento.
*
Deixo muitas vontades morrerem por vários motivos. De tanto idealizá-las eu me canso às vezes e a letargia vem de garfo e faca me pegar,rs. A próxima vontade é só a de que uma noite dure mais tempo que comumente, pra que eu possa aproveitar a dose homeopática denotativa d'la petite mort e desejar a conotativa.
Every night another little death ¹
*
Ontem à tarde, já escurecendo, saí pra cortar o cabelo. Achei que ficou bonito, e me achei bonito. É sempre bom registrar esses momentos porque não são frequentes. Mas o que eu mais queria era cortar o meu cabelo por alguém; cuidar de mim para alguém.
*
Uma professora queridíssima me emprestou "De amor e trevas", a autobiografia do Amós Oz. Comecei a ler.
--
¹ Saucer Like - Sonic Youth
quinta-feira, 11 de março de 2010
Suce moi lentement...
Foto: Nosferatu, meu anjinho da guarda,rsrs. Filme de F. W. Murnau (1922)
Acontece que os serial killers dividem espaço com a vampirada. É um matando o outro. A moda agora é Crepúsculo (livros e filmes), House of Night (livros), True Blood e Vampire Diaries (séries de televisão). Dotado de um espírito altruísta, decidi auxiliar as autoras de House of Night para que tenham mais ideias para os próximos lançamentos da série,que já contam com “Marcada”, “Traída”, “Escolhida” e os ainda não traduzidos "Indomada" , "Caçada", "Tentada" e "Queimada").
Enxotada, esculhambada, escorraçada, enrolada, danada, malcriada, desmamada, amuada, desanimada, fornicada, endividada, enciumada, destroçada, dilacerada, esfolada, vingada, destrambelhada, estocada, intocada, machucada, descontrolada, perscrutada, contrariada, espivitada, escarrada, suada, cortada, dopada, envenenada, enlatada, empoeirada, massacrada, abandonada, famigerada, anunciada, imaculada, sugada, arrombada, sondada, amordaçada, humilhada, iluminada, pelada, chateada, amarrada, acabada, debilitada, despedaçada, estraçalhada, rasgada, intolerada, pisada, arrancada, travada, embananada, atrapalhada, desvairada, trocada, eliminada, degradada, exilada, desregrada, dilatada, alucinada, deslumbrada, enganada, empacotada, perturbada, derrotada, desgraçada, aturada, espiada, angustiada, sufocada, odiada, inconformada, assustada, pichada, assombrada, serrada, metralhada.
Emputecida, amortecida, desiludida, ferida, mordida, sofrida, envaidecida, possuída, fugida, escorrida, partida, entretida, desaparecida, decidida, prometida, comida, fodida, lambida, perdida, medida, preferida, banida, dolorida, crescida, transferida, iludida, socorrida, confundida, comedida, sentida, vencida, abatida, diminuída, padecida, consumida, reprimida, entupida, ardida, acudida, protegida, incompreendida, esquecida, envelhecida, enfraquecida, suicida, entristecida, distraída, corrompida, ensandecida.
Espero, de coração, ter ajudado.
Na linha de Marcada, Indomada, Caçada, Tentada e Queimada, pensei em:
Já em relação a Escolhida e Traída, pensei em:
Espero, de coração, ter ajudado.
segunda-feira, 8 de março de 2010
A Festa de Junette
Foto: Filme "A Festa de Babette"
Na semana passada eu fui convidado para o aniversário de uma colega (e amiga) de sala que mora em Nova Era. Sexta-Feira saí pra comprar o presente que uma conselheira me indicou: bombons. Comprei também um cartão, escrevi uma carta e fiz um tsuru com um papel que eu enchi de ideogramas de paz, amizade, felicidade e amor. É gostoso colocar no meio de presentes comprados um feito pela gente. A pessoa sabe que você dedicou a ela um tempo maior do que o de ir numa loja e escolher algo pronto.
No sábado, vi um amigo na rodoviária. Ele também ia viajar. Prometeu, como sempre, que viria aqui em casa depois que voltasse. Parece que as pessoas sentem culpa por não terem te visitado e, como parte básica da conversação, que começa com “oi” e termina com “tchau”, eles adicionam um “apareço na sua casa depois”. Peguei o ônibus junto a outra amiga e fizemos a viagem cósmica rumo a uma ‘nova era’... pfff. (saudade da Nair). Chegamos, conversamos um pouco, assistimos televisão, comemos Bis, fomos para o quarto, conversamos mais, tomamos banho e aí começou a festa mesmo, que foi só pra família, poucos amigos da cidade dela e a turma da faculdade (pequena, 6 pessoas, e só foram duas).
Tudo começou com um amendoim que eu ainda não tinha comido. Ele tem aquela massinha crocante igual ao do tipo japonês, só que é vermelho e apimentado. Muito, muito bom. Depois, um escondidinho de creme de abóbora com creme branco e carne seca bem desfiada. Mais novidade pra mim, também uma delícia. Aí veio um guacamole, feito basicamente com abacate, limão e sal. Comemos com doritos e estava super bom. Não conhecia. E o churrasco... picanha no ponto, meio mal passada, suculenta, com gordurinha tostada e adocicada... hmmmmm. Carne de porco, dourada por fora, branca por dentro, bem temperada... hmmmmm. Linguiça calabresa, com aquele gosto bom de carne defumada... hmmmmm. Depois desse pesadelo vegetariano, e sonho molhado carnívoro, rsrs, serenata de amor ao redor de um bolo de nozes delicioso, nada de muito doce.
Enquanto estivemos na mesa, histórias sobre o que fulano fez, quanto bebeu, com quem ficou. É legal, apesar de um pouco cansativo, porque são coisas previsíveis, que só mudam de sujeito. Mas são também engraçadas. Ri bastante, e isso me faz bem. Nessas horas eu penso em como desperdiço meu tempo em casa, enquanto tanta coisa acontece lá fora. Quanta gente eu poderia conhecer, mas não conheço. Só que não adianta: quando chega a oportunidade de socializar, eu me lembro de como é chato suportar o papo de várias pessoas até que você encontre um legal. Por isso eu saio com 1 ou 2 amigos no máximo, porque sei o teor da conversa – sim, arrisco pouco.
Depois das conversas da mesa e do bolo, e das odiosas máquinas digitais que acusam que a foto “borrou”, “não pegou fulano”, “ficou escuro”, “minha cara ficou esquisita”, “tenta esconder essa verruga do meu nariz e esconde a minha vassoura”, as pessoas foram dançar (não, eu não quis). Músicas, as do momento. Por isso, Lady Gaga (pfff) na maior altura, dentre outras. Eu entendo que pra situação não rolava Cat Power (de Moon Pix) nem Antony and the Johnsons, rs. Música alta é uma delícia, ainda mais com um bom som. E eu que não gosto muito de dance, estava achando bem legal. Aniversariante dançando de modo engraçado e cantando tudo que tocava, rsrsrs, que gostoso foi ver aquilo!
Saímos da área da festa, viemos para a sala, conversamos, nos despedimos de quem ia embora, fomos para o quarto, conversamos mais, aniversariante já com muito sono e grogue, falando “Não fala mal de Wanessa Camargo porque eu transfiro pra ela...”, “ Isso é locomotiva?...”, e ainda “Ela recebe muitos xingos”. Dormimos (eu em quarto separado). Colchão gostoooso, friozinho leve que fazia à noite... Luz da manhã. Cheiro de pão de queijo subindo as escadas. Escovei os dentes, desci, fui encontrar a dona da casa jogando Pinball no computador antes de terminar uma tábua de frios que fazia por encomenda. Acordara tarde, segundo ela, às 7h. Às 5h é o costume. A aniversariante, lavando copos da festa do dia anterior. A pedido dela, acordei minha amiga dizendo que “Em Nova Era, ninguém dorme até tarde”, rsrsrs. A mesa do café estava pronta, bonita, cheia. Leite, achocolatado, café, bolo de chocolate com castanha, sucrilhos, pão doce com canela, pães de queijo.
Assistimos um pouco de TV (passava The Big Bang Theory e depois Old Christine). Subimos para os quartos, deitamos, conversamos. Tiraram fotos aleatórias. Deletei várias do dia anterior (mua-há-há). Para o almoço, chegaram os parentes que vieram no dia anterior. Fiquei na mesa com eles. Falou-se do casamento dos noivos que estavam lá. Comemos mais amendoim, hmmm, mais picanha, hmmm, mais creme de abóbora, hmmm, e um pouco de batata frita. Já eram 15h quando nos despedimos das pessoas e viemos embora de carona com uma parente da família e as suas duas filhas. Cheguei em casa... pé no chão novamente. Problemas aqui e ali, gente irritada. Berros. Acabaram com a minha noite.
quarta-feira, 3 de março de 2010
Quem com faca fere...
Perceberam que os serial killers viraram celebridades? Uma psicóloga brasileira, que até escreveu um livro sobre como reconhecer um psicopata (livro bem tché-tché inclusive) disse, numa entrevista no Sem Censura, que o Maníaco do Parque era o campeão de cartas recebidas. Várias propostas de casamento foram feitas a ele, teve seus 15 minutos de fama na TV, fez e aconteceu. Em Six Feet Under, no episódio “The Foot” da 1ª temporada, a Claire mencionou um tal de Jaffrey Dahmer. Procurei no Google a respeito do bom rapaz e descobri que apesar de bonito e calmo, cortava o pênis dos seus parceiros e os guardava numa caixa, cozinhava a cabeça para que a pele soltasse mais facilmente do crânio e os pintava, expondo-os como troféus, e também comia a carne dessas vítimas. Depois de preso, foi assassinado por um colega de cela. Outros indivíduos desse tipo que vieram até mim, foram a dupla sertaneja Eric Harris e Dylan Klebold. Soube deles pelo noticiário, claro, mas li sobre o caso principalmente pela relação que fizeram, na época, dos assassinatos com o Marilyn Manson. Acontece que os carinhas decidiram metralhar seus schoolmates porque sofriam de bulling. Mataram cerca de 14 estudantes no Instituto Columbine, no Colorado, EUA, em 1999, e depois se suicidaram. Alegou-se, na época, que a dupla escutava um tipo de rock agressivo que pode tê-los influenciado. Dentre as bandas prediletas estavam KMFDM e Marilyn Manson. O acontecimento rendeu um documentário do Michael Moore (Bowling for Columbine) e um filme ótimo do Gus Van Sant (Elefante). Dahmer era homossexual. As más línguas diziam que Harris e Klebold também trocavam figurinhas. Em “Elefante”, os personagens que os representam tomam banho juntos e se beijam. O corte da cena logo após esse fato permite pensar que algo mais aconteceu.
Shoot shoot shoot motherfucker
Shoot here and the world gets smaller ¹
Boa parte desses indivíduos que não se encaixam no comportamento natural e que seguem um próprio código, acabam revelando desvios sexuais também. E eu suspeito que a ficção retratou esse lado. O seriado “Dexter”, o qual por um bom tempo eu assisti sem muito ânimo, mas depois me viciei, e engoli 4ª temporada, com 12 episódios de 50 minutos cada, em apenas um dia, mostra os dois lados da vida de um psicopata que trabalha para a polícia de Miami. Fizeram muitas adaptações de um assassino em série de verdade para um personagem, é claro, afinal se trata de ficção, até romancezinhos-água-com-açúcar tem. Dexter me faz lembrar dos vampiros da Anne Rice. Acho que eles têm coisas em comum: escondem sua verdadeira identidade; fingem o tempo todo reações e sentimentos que costumam não ter; espiam e perseguem as vítimas; quando estas lhes interessam, estudam-nas meticulosamente; tentam fazer parte do círculo social delas; e, por fim, após essas preliminares, chegam ao orgasmo, cravando-lhes algo no corpo que permita ao sangue/gozo jorrar (no caso dos vampiros, as presas; no caso de Dexter, a faca). O assassinato é o coito desses personagens. Nada lhes dá mais prazer. Louis, o narrador de Entrevista com o Vampiro (Anne Rice), afirma que, apesar de atacar mulheres, as vítimas preferidas de Lestat eram jovens rapazes. Por um lado, Dexter leva uma pacata vida de namorado e, no decorrer da série, pai de família, mas só alcança o êxtase supremo do seu desejo mais oculto quando alivia as tensões ao esfaquear e esquartejar suas vítimas, todas elas homens, escolhidos a dedo.
Got my lunchbox and I'm armed real well
Next motherfucker gonna get my metal ²
A ficção te permite tal distância da realidade que às vezes me sinto culpado por gostar de assistir a um assassino dilacerar a vítima em nacos de carne e querer mais cenas de horror. Mas aquele sangue fictício, feito de groselha, rsrs, e os jogos de câmera que simulam uma arma fria abrindo caminho na carne do ator, não são páreos para um Dahmer da vida, que fez isso:
Já me imaginei cortando alguém. Não gostei das imagens que me chegaram do além,rs. Hoje, eu cortei carne de porco em cubos para o almoço. Raramente faço esse serviço. E digo: a sensação não é boa, principalmente quando ela está em temperatura ambiente e o tato sente os gomos de tecido e músculo sendo partidos. Preciso de outra profissão. Não sirvo pra ser Dexter.
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1- Marilyn Manson - The Reflecting God
2- Marilyn Manson - Lunchbox
(se tiver estômago fraco, já sabe que não deve clicar, não é?)
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1- Marilyn Manson - The Reflecting God
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