segunda-feira, 14 de junho de 2010

David Lynch

 David Lynch e seus cabelos de "Tieta nas dunas do agreste".

Eu conheci o David Lynch da pior maneira possível: assistindo o filme Twin Peaks. Não entendi bosta nenhuma e fiquei com aquele gosto de “é só isso?” na boca. Descobri que era um filme baseado num seriado homônimo criado por ele. Depois eu vi O Homem Elefante e, a não ser pelo personagem-aberração, não encontrei a estranheza que todo mundo falava. Nem gostei do filme, pra ser sincero, a não ser pelo tratamento cuidadoso do preto e branco. Isso foi no final de 2008. Essa semana eu resolvi dar uma chance a ele (olha como sou bondoso, rs!) e fiz uma maratona David Lynch. Foram 4 filmes, um por dia. Como eu acho que resumo do enredo torna o filme bobo, só vou contar mesmo as minhas impressões, como no post anterior:

Mulholland Drive (2001) Atuações exageradas e teatrais de propósito. Dicções perfeitas e falas lentas. Uma escuridão palpável (algo que eu perceberia em todos os próximos filmes) como em nenhum outro diretor. Bastante vermelho. Cenários e objetos coloridos. Isso lembra Almodóvar, que usa mais cores contrastantes que Lynch mas pouco claro/escuro. As protagonistas deram um pega animal, rs. Praticamente todo o filme passa e pouco dá pra entender. Somente nos minutos finais a história fica um pouco mais clara. Gostei, mas a primeira impressão foi de um filme simples. Cena marcante: uma mulher cantando com playback em espanhol no teatro (o que lembra Almodóvar outra vez). O Pablo Vilaça tem um site chamado "Cinema em Cena" e faz análises ótimas de vários filmes. Aqui você encontra a de Mulholland (é só clicar em 'críticas').

Blue Velvet (1986) Tem uma historinha melosa, chata e estereotipada de amor que contrasta com a aventura adúltera e masoquista do personagem principal. Comecei a achar que tinha “pegado a coisa” dos filmes: temas comuns (mulholland – ciúme ; blue velvet – traição) tratados a partir da visão e do estilo do diretor. Depois percebi que era muito mais. Assistir a este me fez gostar mais do Mulholland e deixar de achá-lo simples. Cena marcante: close nos insetos da grama.

Lost Highway (1997) A mai-or doi-dei-ra! Muito, muito suspense, e desta vez perturbador. Atuações e elenco melhores do que os filmes anteriores. Trilha sonora com rock (Manson aparece junto com o Twiggy em uma participação rápida como atores de um filme pornográfico. 97 foi a época de ouro da banda, quando começaram a fazer sucesso de verdade). Balthazar Getty novinho,rs. Para mim, dos filmes dele que eu já assisti, o melhor. Cena marcante: sexo em câmera lenta no deserto e uma luz celestial (ou infernal) incidindo sobre atriz.

Inland Empire (2006) Um filme mais para sentir do que para entender. Se eu tinha alguma dúvida da genialidade do David (intimidade), ela terminou em Inland Empire. E se eu achei Lost Highway a maior doideira, é porque eu ainda não tinha assistido este aqui. Foram três horas de filme e eu nem percebi. Muita tensão. A Laura Dern tem a mesma expressão o filme inteiro e isso incomodou um pouco. O começo do filme é até compreensível: uma atriz de Hollywood cuja vida se mistura com a da personagem de um filme que fará. Passados alguns minutos, é difícil saber qual cena é da vida da atriz e qual é a da personagem que ela representa. A câmera de mão deixa a impressão de algo caseiro e amador, cru, tipo Lars von Trier. O diretor ainda encaixou, no filme, uma série muito sinistra de curtas chamada Rabbits (tem no youtube), que mostra 3 pessoas com cabeças de coelho (aparentemente uma família: mãe,pai e filha) dizendo, com vozes em off, falas nonsense. Cronologia completamente embaralhada. Já não tenho certeza se Lost Highway é meu preferido. Cena marcante: a morte da protagonista que logo se revela apenas gravação do filme (metalinguagem).

Lynch não tem nada de sobrenatural. O que ajuda no suspense é a trilha sonora do Angelo Badalamenti, os cenários sombrios e as expressões de medo, de terror, de desespero, e de incompreensão dos personagens que vivem numa constante atmosfera de pesadelo.

Sabe quando você lê ou assiste a uma série e fica triste quando acaba? Então, fiquei assim depois que acabou Inland Empire, porque eu estava inteiro na onda do Lynch. Chapadão! Não vai ser a mesma coisa mas eu ainda posso assistir Wild at Heart, Eraserhead e o seriado Twin Peaks pra completar essa experiência incrível e que eu recomendo a todos que não tenham preguiça de um cinema menos convencional.

Assisti mais 3 filmes: um antes, um durante  e um depois dos de Lynch:

Sede das Paixões (1949) Bergman. Se comparado aos outros dele, é bem fraco. Mas continua sendo melhor do que muito filme do mesmo gênero por aí. Mulheres histéricas, mulheres traídas e, como sempre, uma relação “sáfica”, que ele adora colocar nos filmes.

My Fair Lady (1964) Aquela abertura serviu de inspiração pra Dancer in the Dark, eu aposto, ainda mais por serem, ambos, musicais. É longo, quase 3 horas, como The Sound of Music (Noviça Rebelde). Eu tenho uma preguiça colossal de assistir musicais, mas sempre gosto quando vejo. E esse não foi diferente. Audrey Hepburn é mesmo muito bonita. Não sei se era propósito do filme ou se na época ainda era assim, mas a mulher não passava de um objeto que os homens exibiam em festas. Gostei muito.

Moulin Rouge (2001) Gostei do clímax, do desfecho e de uma música (The show must go on). Mas só. A primeira metade do filme é muita macaquice pra mim e uma poluição visual (é claro, é cabaré). Ele é bonito, ela é muito,muito bonita, mas pra mim os dois não têm nada a ver um com o outro. Não rolou química no par. Uma coisa muito legal: as intertextualidades. Mas... músicas chatas, vozes chatas e sem potência. Talvez eu esteja sendo um pouco duro demais, e eu pretendo assistir de novo quando não estiver chapado por Inland Empire. Eu não sei se posso comparar, mas gostei muito mais de Chicago.