quarta-feira, 11 de junho de 2014

« Les miroirs feraient bien de réfléchir un peu avant de renvoyer des images » ! - (Le sang d'un poète) Jean Cocteau

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Pour que je n'oublie pas:

L'Artisan Parfumeur ; peut-être Fou d'Absinthe ; Xavier Dolan ; Les Amours Imaginaires

domingo, 12 de maio de 2013

Old Red



Amour - Haneke - 2012


Minha avó morreu. O fato, datado da segunda metade do ano de 2012, foi recebido com gritos e gemidos de "perdi minha mãe" de minha própria mãe. Eu e minha avó pouco nos víamos e tínhamos aquele paradoxo familiar da consideração pelo sangue, mas da distância física e emocional. Foi essa a principal causa de eu nada ter sentido quando ouvi "vovó faleceu", pelo celular, notícia dada por meu irmão, a não ser um leve "mais uma vida como tantas outras" e um outro "isso vai mudar a rotina do dia, quiçá da semana".

Pedi licença no trabalho, viajei pouco mais de uma centena de quilômetros, revi tios em estado choroso e primos neutros da angústia, como eu. Foi então que percebi que eu não era tão frígido como cheguei a imaginar; e como aquilo tudo era doloroso não pelo senso comum da perda de um ente, mas pelo automatismo dado - ou por mim percebido - a um ritual mais pesaroso que exige A Morte ocidental e a família envolvida.

Seguindo obsoletas tradições das pacatas cidades pequenas, no meio da sala de entrada da casa - e para todos que ali passassem pudessem ver - foi colocado o caixão. Durante toda a tarde e noite em que ficou exposta, e mesmo precisando passar por ali várias vezes para chegar aos outros cômodos da casa, não olhei sequer uma vez diretamente para minha avó, mas o olho captou relances das feições que eu tanto me lembrava mas que não queria encarar.

Passados 6 meses, em média, hoje fiquei particularmente mexido com essas lembranças. Culpa do absurdo que parece falar e ouvir em uníssono - resguardados os filhos de minha avó - que "eu não estou assim tão triste pela morte de vovó", além de alguns "nem eu". Não é à toa que um número sem fim de indivíduos conscientes do pó que são resolvem que não querem passar por esse mundo sem uma marca. Me dói saber que a contribuição de qualquer ser passe incólume, ou, neste meu caso específico, que as únicas lembranças sejam os lampejos translúcidos de férias da escola regadas a guloseimas "na casa de vovó".

Não pretendo dizer com isso que toda morte careça de ser tratada como um evento de proporções mundiais, nem que se contratem carpideiras para pranto eterno pela perda de alguém. Não haveria tempo nem empenho. É parte natural, é cultural, e mais que tudo isso, é individual, mesmo que atinja a todos. Acho que no fundo quero dizer que há um narcisismo geral - e me incluo nele - ainda não saído da infância, e que nos fere se pensamos que podemos - e, muito provavelmente, vamos - terminar "isso" (a vida) em total anonimato.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Ascendido

 Chema Madoz

14 de Agosto de 2011, 3 da manhã de Domingo pra Segunda-Feira (feriado de Assunção de Nossa Senhora): Vencido o asco da imolação e da ressaca, e sem culpas, nem medo e com desejo, não mais resisti.

Que eu seja eu e não outro e que gostem de mim assim, mas que eu não estrague o que eu quero tanto que dê certo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Amém


Desde que eu parei de frequentar a igreja, aos 19 anos, 
meus pecados foram sumindo aos poucos, "milagrosamente".

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A falta de algumas letras "e" fazem toda a diferença.



C’etait un vendredi. Le 23 septembre 1983. A quinze heures. A Paris, au numéro 5 de la rue Jean-Jacques-Rousseau. Dans un studio uniquement meublé d'un lit double. Pas de musique. La lumière d'une bougie. Il avait vingt-trois ans, moi dix-neuf. C’était mon premier amour. Mais il avait choisi Dieu, il m’avait quitté pour entrer dans une secte. Une semaine plus tard, il a garé sa voiture près d’un passage à niveau, et il s’est jeté sous le train. Sous le siège de la voiture, on a retrouvé mes lettres d’amour. Il a été enterré en Haute-Savoie. Sa mère a refusé que j’assiste aux obsèques. Je suis resté enfermé dans ma chambre, seul. Je n’ai jamais autant pleuré que ce jour-là. De seize heures à dix-huit heures, le temps qu’ont duré les funérailles. Puis j’ai allumé une bougie dans un verre, je me suis allongé, endormi. Quand je me suis réveillé, le verre s’était brisé, la bougie était éteinte et j’étais agenouillé. Genoux à terre, avec dans les mains la seule photo que j’aie jamais eue de lui, celle du faire-part de décès. (p. 245)


Foto e texto: CALLE,Sophie. Douleur exquise. Paris: Actes Sud,2003. 
Fonte da Foto: (http://www.christinawilson.net/template/t02.php?menuId=64)

terça-feira, 5 de julho de 2011

A esperança é um urubu pintado de verde


Há poucos dias recebi um e-mail intitulado "Fotos Históricas" que trazia uma série de celebridades e lugares mundialmente ou nacionalmente conhecidos. Elvis Presley no exército, Marilyn Monroe na Playboy, a evolução das garrafas de Coca-Cola, o Corcovado sem o Cristo Redentor, o massacre do Carandiru, etc. Mas a minha foto predileta é uma do John Lennon dando autógrafo ao jovem que, pouco tempo depois, iria assassiná-lo. Ainda não gosto tanto assim de Beatles, e gosto menos ainda de John Lennon em carreira solo, e como não chego a ser fã, não é por tietagem que a foto me chamou a atenção. Aliás, ela é simples, não tem nada de pungente pra mim e, de início, só serve como registro. Ela só ganha importância e deixa de ser só mais uma dentre várias fotos por ter captado o instante em que algoz e vítima estão tão próximos. Não li bem sobre o caso, então não sei se nessa época o rapaz à direita já planejava o crime. Estive aqui tentando encontrar na feição dele algo que denuncie a sua intenção. Mas não vejo nada! Acho que ambos estão enquadrados no domínio do imprevisível. Chego a sentir um pouco de pena daquele que será morto porque eu sei que ele será morto, e ele, na foto, não sabe. Quando se trata da foto, eu tenho consciência de que Lennon morrerá pelas mãos daquele que está logo ali, ao seu lado. Nesse sentido, eu prevejo o futuro, enquanto ele, personagem-protagonista que sofrerá a ação, permanece na inocência e na ignorância. Diferente de Jesus Cristo, que sabia que um de seus apóstolos o trairia, John Lennon estava desprevenido. Em compensação, o autógrafo dado por ele ao fã é como o beijo concedido a Judas.

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P.S. I - Título: Mário Quintana
P.S. II - Ainda volto aqui para falar da semana passada, em que saí em todos os quatro dias de feriado e ainda fui em um show de pagode!

sábado, 18 de junho de 2011

Isso é que dá não saber escolher repertório

 O da estampa da camisa é esse mesmo que você está pensando.
Moz era fã dele. Acho que sabemos um dos motivos, né? rs.

Morrissey (Moz pra quem se sente íntimo) não pára nunca de intrometer na sua vida se você deixar. Hoje, pela manhã, como se não bastasse eu já ter acordado "tão bem", eu caio na armadilha de ouvi-lo e, como quem é convidado pra entrar, ele chegou sussurando assim:

There's gonna be some trouble 
(Haverá alguns problemas)
A whole house will need re-building 
(Uma casa inteira precisará ser reconstruída)
And everyone I love in the house 
(E todos os que eu amo na casa)
Will recline on an analyst's couch quite soon 
(Em breve se reclinarão no divã de um analista)¹


 "Nóis vêi inté aqui pa separá o joio do trigo, arre!"

Mas acho que meu aparelho de som, por mais máquina que seja, ficou com pena e, pra entornar um pouco de luz no dia que amanheceu meio sombrio, resolveu tocar Noah and the Whale:

It's the first day of spring
(É o primeiro dia de primavera)
And my life is starting over again
(E minha vida está começando de novo)
[...]
Like a cut down tree I will rise again
(Feito uma árvore cortada, eu crescerei novamente)
I'll be bigger and stronger than ever before
(Serei maior e mais forte do que antes)
[...]
There's a hope in every new seed
(Há uma esperança em cada nova semente)
And every flower that grows upon the earth
(E em cada flor que cresce sobre a terra.)²

Hoje tem churrasco pra eu ir. É dia de socializar. Rs.
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1 - Morrissey - Now my heart is full.
2 - Noah and the Whale - The first day of spring.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Maio já está no final, e o que somos nós afinal?

Pra combinar com a laranja daquele outro post. 


Ontem, quando o primeio semáforo que há depois da autoescola abriu - dando aval para aquele dilúvio bovino passar no matadouro -, eu deixei o carro morrer e tive que ligá-lo às pressas porque vinham outros atrás. Não levei buzinada na cacunda (kkkkk) mas fiquei meio aflito. Hoje de manhã eu já saí de casa preocupado com isso, e pedi a Skinner 1 que não me punisse, porque eu já tinha aprendido com a lição, rs. Pois não é que o dito cujo me deu foi uma recompensa? Pela primeira vez, encontrei o sinal verde. Durante a aula eu errei baliza três vezes, o que deu margem pra que o "fidaégua" sentado no banco do carona afirmasse que "tá faltando pensar um pouquinho, hein, motorista?!", mas acertei as próximas duas. Na volta, o espírito de Nenê (como também é conhecido Skinner) foi mais uma vez generoso e eu encontrei o outro semáforo também verde. Chegando na autoescola eu me desesperei pra estacionar o carro no meio daquela muvuca de bicicletas e motos e pedestres e crianças com catarro verde escorrendo pelo nariz e limpando em mangas de blusas de frio já melecadas, o que deu vazão pra que o "fidaputa" sentado ao meu lado direito ralhasse comigo, dizendo que "cê demorou demais pra virar o volante, motorista, que negócio é esse? E essa sua embreagem hoje não tava funcionando, não?!". Não, não estava. Ela agarrou no seu ** quando eu apertei até o fim, babaca. Saí do carro, fechei a aula, e vim embora.



- O sinal...
- Eu procuro você...
- Vai abrir, vai abrir...
- Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
- Por favor, não esqueça, não esqueça...
- Adeus!
- Adeus!
- Adeus!2



Passei num mercado de verduras pequeno, coisa de duas portinhas, e enquanto escolhia limões - gosto muito em carnes e na comida -, ouvia uma música bonita ali dentro. A voz era masculina e o estilo era lírico. Lembrava um pouco o Josh Groban, mas eu duvidava que alguém aqui, e logo num mercadinho, conhecesse. Nem é preconceito, é estatística mesmo. 



Eu: "Isso é rádio ou CD?"
Ela: "É CD. Eu vi que você tava procurando de onde vinha o som" (e apontou, com sorriso no roso, pra um microsystem). 
Eu: "De quem é?"
Ela: "O CD? É meu".
Eu: "Não, digo, de que artista?"
Ela: "Ah, é Julio Iglesias. Eu adoro Julio Iglesias. Tenho três dele, mas quero pedir minha irmã pra gravar mais pra mim". 
Eu: "Achei muito bonita a música! E o estilo me lembrou um outro cantor que eu conheço".
Ela: "Quem?"
Eu: "Josh Groban. Ele é dos Estados Unidos mas canta em outras línguas além de inglês, tipo italiano".
Ela: "Ah, esse eu não conheço. Depois você me diz o nome do CD, e eu vou tentar comprar".
Eu: "Tudo bem, então. Até mais e obrigado".
Ela: "Até mais, e obrigado a você".



Fiquei feliz por ouvir uma coisa diferente em um lugar tão simples. Geralmente, o padrão é rádio tocando nunca-se-sabe-o-quê da terra do Tio Sam e sempre-se-sabe-o-quê, já que as músicas se repetem durante todo o dia. Acho que ela ficou feliz por alguém ter percebido a música , ter dito que gostou, ter se interessado em perguntar quem cantava e, ainda, conversar um pouco sobre aquilo em meio a bancadas de beterrabas, limões, pepinos, abobrinhas, cebolas, tomates, batatas, balança digital, gavetas do caixa, moedas, cédulas e sacolas plásticas. Mas saí de lá pensando "Oh meu Deus, eu gostei de Julio Iglesias. Eca!", kkkkkkkkkkkkkkkkkk. Isso sim foi preconceito. Mas tem gente que gosta, em alarde, de coisa bem pior (sem essa de relativismo hoje). Fato é que eu cheguei em casa e fui logo procurar na internet a tal música. Das mais de 400 disponíveis numa dessas rádios online, não é que eu escolhi a certa? Tinha entendido um "Te voglio bene" (valeu, Terra Nostra, rsrs) lá no mercado, coloquei no Google enquanto o início da música tocava e não dava pra distinguir se era ela mesma, e descobri que era. O nome dela: Caruso, que também é nome do cantor de "Una Furtiva Lagrimia", que nossa querida Maca 3 tanto gosta(va).

 

Te voglio bene assaie
ma tanto bene sai

é una catena ormai
che scioglie il sangue dint'e vene sai



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1 - Aquele carinha do behaviorismo, rs.
2 - Sinal Fechado - Chico Buarque.
3 - Macabéa (A Hora da Estrela).


sábado, 28 de maio de 2011

Não sou o Messias, mas trago novas...

 Há quem sofra críticas por admitir que gosta dele.

Andam, em sonhos, me assombrando. Pessoa antiga. Diz desdenhosa coisas como "fica ele lá, escutando o 'amaaado' Caetano. Não sabe de nada, não é prático. Quero ver o que vai ser!" enquanto subimos as rampas do Niemeyer*, descemos escadas estreitas de madeira, evitamos nos olhar e deixamos alunos pequenininhos passarem rumo às salas de aula.

E agora estamos aqui
Do outro lado do espelho
Com o coração na mão (...)**
 [Esperando que Jaguadarte o deixe em farrapangalhos (?) rs.]

De um pote cheio de rosquinhas bem crocantes eu tirei uma e comi. Na hora de escolher a segunda, procurei a menor, mesmo tendo olhado e desejado a maior. E deu um click: Sempre o receio de ser considerado esperto, egoísta, afoito e esganado, e a vergonha da associação com a minha imagem. Então, mesmo que eu pegue 20 pequenas, a mais vistosa é sempre deixada por último, pra que alguém que não tenha vergonha de ser esperto e seletivo a pegue e me livre da escolha - e para que o meu arrependimento cíclico recomece. Mas oh... como isso está mudando!!!

Slightly bemused by the total rejection
Dreams of a place with a better selection
Dreams of a face that is pure as perfection ***

Estive dançante esses dias. Mas faço mais mudras epilépticos com o corpo do que uma dança propriamente dita. Deve ser por isso que é tão catártico. Que nada, né? É só porque gasta um pouco de energia e libera endorfina mesmo, rs. Estou fazendo aulas de direção de carro (aleluia!) e fico tenso durante todo o tempo. Então, só por dois dias, senti vontade de chegar em casa e ter uma válvula de escape. O repertório é curto e já conhecido, mas as músicas foram as mais agitadas de Beirut (como Brandenburg, que parece um terreirão de macumba com maracatu), Placebo (tipo Brickshit House e You Don't Care About Us) e Björk (Earth Intruders).

You're too complicated, we should separate it.
You're just confiscating, you're exasperating. ****

Ahhh!!! Duas coisas pra contar: Num sábado, fui em um churrasco que teve muito coração de galinha, carne de boi, linguiça e asa de frango, três pessoas divertidas e inteligentes, bem como uma adolescente que foi dormir mais cedo, vinho tinto seco e branco suave, e um tal de Trivento (argentino) que eu gostei muitão, e trilha sonora com coisas que eu gosto. Na semana seguinte, fui em um rodeio e no show de Cézar Menotti e Fabiano! rs. Balancei um pouco, cantei (berrei) as músicas. Me diverti muitíssimo. Quem não me conhece, aposto que acreditou que eu sou fã dos rolicinhos. Sério! Ainda que não tenha encontrado, cacei! E vi conhecidos e conversei, e ri e critiquei, kkkkkk.

I beg you my darling
Don't leave me
I'm hurting (...)
You're not rid of me
I'll make you lick my injuries *****

I put a spell on you
Because you're mine. (...)
I don't care if you don't want me
'cause I'm yours anyhow. ******

Sabe... eu posso até ficar triste, mas não sou, definitivamente, desses de sair gritando essas coisas (tipo as dessas músicas aqui em cima) por aí. É querer se humilhar. Bom é voltar a gostar do que sempre se gostou.

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Últimos Filmes: Dias selvagens; Felizes juntos; 2046 - Os segredos do amor; A conversação; Dersu Uzala; Entre no vazio; Violência gratuita; A partida; Tio Boonmee; Lady Chatterley; Gênio Indomável; Maurice; XXY; e curtas (Comida; Dimensões do diálogo; Meat love; Código Tarantino; A casa de pequenos cubos).

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* Ontem assisti na TV um documentário sobre ele e acabou fazendo parte dos sonhos.
** Onde o Rio é Mais Baiano - Caetano Veloso
*** Burger Queen - Placebo
**** You don't care about us - Placebo
***** Rid of Me - PJ Harvey
****** I put a spell on you - Screamin' Jay Hawkins (mas eu conheço pelo cover de Marilyn Manson)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O corpo existe e pode ser pego

Hermann Nitsch (clique para aumentar)


9-10/04/2011 - A proto-consumação do amor-mentira no chiaroscuro de uma casa vazia.

Ainda o assombro da característica dos olhos de Capitu. Que logo passe. Amém.

Edit. 18 de Abril: Re-parido. Recebi tantos desanimadores Seja Bem-Vindos. Sai-se incólume? Não.

sábado, 2 de abril de 2011

Je suis parti avec toi



Ano passado eu postei aqui umas impressões sobre "La Musique", o álbum até então recente do Dominique A. Já faz tempo mas até hoje não consegui todas as letras das músicas. E como eu queria muito uma delas, acabei pedindo a ajuda de um amigo virtual pra transcrever, comigo, a letra de "Je suis parti avec toi". Vou fazer a boa ação de colocar aqui pra que as pessoas que busquem por ela no google encontrem resultado.


Je suis parti avec toi
sans te le dire, un beau matin.
Quand tu es sortie de mes bras
j'ai réglé mon pas sur le tien.
Tu n'as pas eu l'air de me voir,
de savoir que je te suivais
comme tu avancais au hasard,
et que le ciel s'épaisissait.

Tu savais pas bien où aller.
Ta liberté t'ébahissait.
Des hommes t'ont serrée de près.
Je ne me suis pas détourné.
Je sais pour toi qu'ils n'etaient rien,
qu'ils ne pouvaient pas te toucher.
Tu cherchais ma main dans leurs mains,
je regardais ta main chercher.

Je suis parti avec toi
sans te le dire, un beau matin.
Et je ne t'ai jamais rejoint,
ni plus jamais touché tes doigts.
À chaque endroit où tu allais
je sentais qu'en toi j'etais là,
j'entendais que tu me parlais
comme quand tu etais dans mes bras,
comme quand tu etais dans mes bras.

Je suis parti avec toi.


domingo, 13 de março de 2011

Ferreira Gullar no Roda Viva



Entrevistador: "Você inventa o poema ou o poema vem?"
Ferreira Gullar: "Não, eu invento. A vida é inventada, não é só o poema. Nós nos inventamos. A Divina Comédia podia não ter sido escrita. Bastava Dante ter morrido aos 15 anos. Eu não estou dizendo que [a coisa] por não ter sido escrita não tem importância. As coisas são feitas por acaso, são feitas como invenção, e depois se tornam necessárias à nossa vida se elas correspondem à nossa necessidade."


"Eu vou ler um poema que é curto, embora não seja muito alegre. Eu estava andando pela praia, porque eu moro perto de Copacabana, aí de repente eu me lembrei que meu filho, Marcos, fazia aquele passeio sempre, só que ele não existe mais, não estava olhando mais aquilo. Aí eu me comovi com esse pensamento e escrevi, pouco tempo depois, o poema, que diz assim:

Os mortos


os mortos vêem o mundo
pelos olhos dos vivos

eventualmente ouvem,
com nossos ouvidos,
       certas sinfonias
                 algum bater de portas,
       ventanias

           Ausentes
           de corpo e alma
misturam o seu ao nosso riso
           se de fato
           quando vivos
           acharam a mesma graça  "


sexta-feira, 11 de março de 2011

"Sonhos Molhados"






Quem lê esse blog sabe que eu conto alguns dos sonhos que tenho. Eles são sempre estranhos, mas se fossem os comuns, qual o sentido de contá-los? O dessa vez foi assim: Eu no box do banheiro. No lugar da torneira do chuveiro, uma válvula de descarga. Eu a apertava. O ralo, entupido, regurgitava um caldo escuro, asqueroso e fétido. Com as costas na parede e as pontas dos pés no chão, eu evitava que aquilo encostasse em mim. Está ou não está claríssimo? Pois é. Está sim.

Lembrei-me da cena do banheiro em A Conversação* e do líquido misterioso de Solaris**.

-

Só mais uma coisa: Eu prefiro um corajoso erro feio igual Zii & Zie*** a uma medrosa repetição de onomatopéias (dib dib da da du dudu para pá) feito aquele insosso Ária****. Quem não se reinventa na arte quer oferecer jiló com pó dourado ao público.

--
* Coppola
** Tarkovsky
*** Caetano
**** Djavan


quarta-feira, 2 de março de 2011

Laranja

É obvia, mas tu não queria que a imagem fosse a de uma jaca, queria?



Peguei um saco verde com laranjas  verdes, mas por dentro eram laranjas laranja. A paternidade comprara. Havia 9 delas. Descasquei 3. A irmandade masculina comera 1. Mais tarde, descasquei mais 2. Mais tarde, mais 4. Mas laranja mais laranja dessa vez não houve. Descascá-las é tão chato quanto terapêutico. Entre descascar e comer, descascar e comer, descascar e comer, hoje fiquei com descascar tudo de uma vez pra que toda a parte chata fosse separada da prazerosa (esta ficando por último). Não tive vontade de comer ainda e gostei de descascar. Estão todas dentro da geladeira esperando por alguém disposto a encará-las. Laranjas me dão espinhas. Expostas e internas. Pode ser impressão, pode não ser. Outro dia fiz suco, hoje comi.

A paternidade comprou cheirosos Phebos, e muitos de cor laranja. É uma das fragrâncias de que mais gosto. Raspo, com a unha, uma camada ressecada que vem dos lados enquanto tomo banho. É divertido.

A prole da parte feminina da irmandade pintou as unhas de um laranja muito vivo. Ficou feio. Eu disse: "Que bonito!!! Quem pintou suas unhas?", ao que ela respondeu: "Minha mãe".

Ontem, no supermercado, eu vi carambolas meio verde-alaranjadas. Mamões meio verde-alaranjados. Chá verde com laranja, que eu tanto gosto, mas não o de laranja com especiarias, que procuro há mais de um ano. "Que tal um chá pra gente se achar?".

O botão "Publicar Postagem" é laranja. O logotipo do blogspot é laranja. (inutilidade)

"Pra você aprender a beijar, treine com uma laranja, ou então, tire o miolo do pão com a língua". 

Eu gosto muito de bolo de laranja.

"Quantas vezes já cheguei no fim da festa / Quantas vezes o bagaço da laranja é o que resta". D2 (apelei hein!) (o sotaque carregado pronuncia "resta" assim: /réixxxta/)

Disseram que para eliminar um foco de formigas dentro de casa, põe-se veneno num pedaço de fruta cítrica, que é a preferida delas, como uma laranja, e deixa-se a uma certa distância do local de onde saem. As formigas obreiras virão até a fruta, sugarão o líquido envenenado e, já dentro do formigueiro, alimentarão a rainha... Isso só me parece menos covarde e maquiavélico do que jogar sal em lesma. A impressão que dá é que para muitas pessoas esse inseto, por ser tão pequeno, não merece respeito. Soou meio protetor dos animais, mas é que tenho pena. Juro.

A formiga é o abutre da terra. (só pra completar "Cultura", do Arnaldo Antunes).

Um dos meus filmes prediletos: Laranja Mecânica. (Hoje em dia é predileto de todo mundo. O(a) fulano(a) vê Homem Aranha, Um Amor pra Recordar e Uma Linda Mulher. Quando perguntado(a) se já viu Laranja Mecânica diz que "eh o filme dah miña vida, véi. Adoro esces filme di pissicologia! Eu mim paresso com o Alex".

O Brasil perdeu para a Holanda ( laranja mecânica ) na copa de 2010.

Há duas gosmas verde-alaranjadas na capa de The King of Limbs (que é muito bom, por sinal).

E a Vereadora Antropófaga? Hahá! 7 minutos apenas. Tudo laranja. Almodóvar.

É previsível, mas tu não queria que as cores desse texto fossem azul e cinza, queria?

Sophie Calle. Regime Cromático. SEGUNDA-FEIRA: LARANJA - Purê de cenoura, camarão, melão, suco de laranja.

CALLE, Sophie. De L'Obéissance. Paris: Actes Sud, 1998.