quarta-feira, 31 de março de 2010

Les enfants terribles

  Vee Speers - The Birthday Party

Então, é o seguinte:

1. Eu, concentrado, circunspecto, almoçava, quando vi minha sobrinha, que já tem quase cinco anos, pegando no garfo com destreza, copiando movimentos adultos,  misturando rapidamente a comida simples que lhe fora imposta desde indigente de mente, comendo, rindo, sem reclamar. Saí da mesa chorando.
 
Get over the sorrow, girl
The world is always going to be made of this ¹

2. Eu estou fazendo estágio. Eu dou aula para crianças de 9 e 10 anos. Eles me perguntam coisas simples. Eu respondo. Eles se espantam porque eu sei. Eu me espanto com a inocência. Eu me entristeço com a inocência. Eu tenho dó de mim por ter muita, muita dó deles. Eu tenho vontade de abraçar cada um e pedir desculpas. Não sei pelo que, mas desculpas. E pedir que me entendam. E que não me julguem. E que me ajudem a superar o dia.
 
All the stillborn love that could have happened
All the moments you should have embraced
All the moments you should have not locked up ²

3. Pensadores do mundo inteiro podem me trazer frases de efeito sobre a infância em  enormes cornucópias. Que os infantes sabem de tudo. Que são professores para os adultos. Que são etc. Nenhuma, mas nenhuma mesmo, me serve hoje. Nem considero que sirva a eles. Tenho pena porque...porque alguns deles podem ter uma experiência dolorosa de vida que muitos têm. Pão na mesa mata fome da carne. E só. Eu poderia ser a pessoa mais feliz da minha geração se isso fosse o suficiente.

To shut yourself up
Would be the hugest crime of them all
Hugest crime of them all
You're just crying after all
To not want them humans around any more ³

--
¹ Björk - Pneumonia.
² Idem.
³ Idem.

domingo, 28 de março de 2010

Dominique A - La Musique

Foto: minha. 

Descobri, anteontem, um cantor chamado Dominique A, baixei “La Musique” (2009), gostei. Acho que finalmente encontrei algo mais degustável desde que me indicaram Noir Désir. Aí vão as as primeiras impressões:

01 (Le sens) – Palminhas eletrônicas. Tumtum-tá - Tumtum-tá. Andam fazendo versões da letra de “I’ve seen it all” direto do Björkês. Rsrs. (J'ai tout essayé / J’ai voyagé, j’ai cru / J’ai nagé nu / mais bien sûr si j'y pense / tout ça n'a pas grand sens. / Peut être ne suis je pas né / peut être ne suis-je qu'absence / tant que ne m'est pas donné le sens*)
(E se tudo o que se sente, pensa, vê, tateia, escuta, não passar de artifícios da mente? O que há para me garantir que o que se chama de existência de fato existe num plano real? Por que é que ações como conversar, escrever, “tocar as chagas”, me dizem que eu vivo?” E aí me contaram que algum filósofo (é, não me lembro qual) disse que a gente pode estar vivendo um constante sonho. E depois eu li “A Náusea” do Sartre, me senti em casa, mas também mais confuso, porque comecei com uma pergunta e terminei com 1000.)

02 (Immortels) – A letra é do Aquiles?(Tróia) rs. Ou então ele está se achando “O elfo tolkieniano”. (je ne t'ai jamais dit / mais nous sommes immortels. / Le savais tu déjà / avais tu deviné / que des dieux se cachaient / sous nos faces avinées**) Sou só eu que vê vampirismo em tudo? (Et qu'il y avait du sang / qui ne sècherait pas / tu me donnais la main / pour boire de ce sang là***)

03 (Nanortalik) – Na hortaliça. Rsrs. Mistura de Legião com Morrissey. Existe? Contrataram um elefante pra fazer backing vocal! kkkkkkkk. Pelo menos samplearam.

04 (Qui-es tu?) – Voz etérea, distorções ‘ETéicas’, letra ‘aliceana’. “Quem é você?, perguntou a Lagarta”. (Mais qui es-tu? / Mais qui es-tu? / Mais qui es-tu? ' ). Enigmática.

05 (Hasta (que el cuerpo aguante)) – Violão tá nervosinho, tá? Tenho preconceito contra frases em outro idioma na música. Ou tudo ou nada. E ainda me vem com espanhol,rs. “il ira, ira, ira ira, hasta que el cuerpo aguante”.

06 (La musique) – Ritmo bom. Bem, bem séquissi, rs. Não consegui entender uma frase inteira sequer, mas a música é boa. Garanto.

07 (Je suis parti avec toi) – Jack Johnson puro nos primeiros 5 segundos. Agora mudou bastante. Efeitos tipo guitarra bem suja (Mansoooooon huahua), batida de lata. Muito, muito ritmo! (Je suis parti avec toi sans te le dire, un beau matin / Et je ne t'ai jamais rejoint / Ni plus jamais touché tes doigts / A chaque endroit où tu allais...' ' ). Jacques Prévert(Le déjeuner du matin), Placebo(Follow the cops back home), Mr. & Mrs. Smith.

08 (Le bruit blanc de l'été) – Ah não, tudo menos calypso! rsrsrsrs. Até que se fosse “O barulho branco do inverno” eu entenderia melhor a sinestesia, mas “do verão” não entendi. Eu acho que ele teve uma “bandescência” (banda de adolescência) mal resolvida. Tá querendo ser jovem com esse sonzinho. Mas ok: bem legal de ouvir.

09 (Des étendues) – Chanson triste! Sons pra viajaaaaar em souvenirs... *balança a mão pra lá e pra cá and cryyyyy, eminho malacabado, cryyyyy* kkkkkkk.

10 (Les garçons perdus) – Viu, não é só o D2 que canta sobre favela,rsrsrs. (Tous ces garçons perdus ne rient jamais / Ils jettent pierre' ' '). São doidos de pedra. Rufus “... or scrappy boys faces have general run out of town” (Cigarretes and chocolate milk), Peter Pan (the lost boys).

11 (Hotel Congress) – Deve ser o mesmo Hotel de ‘O Iluminado’ (Kubrick), ou então o ‘California’ (Eagles), ou ainda o Atlântico (Noll). Voz de tele-sex. Arranjo triste. Toquinho de música de exército. Três acordes apenas fazem muito. ('You know, my friend, sometimes less is more' - Molkito tirando pateticamente o Groisman,rs)

12 (La fin d'un monde) – Tango!!! Na primeira ouvida: ótimo. Depois, detectei um sotaque árabe,rs. Gosto de música árabe, mas somente quando sei que é! Rs. Fecha com chave de “existencialismo” escatológico: (Dans la lueur du soir / Tu auras vu la fin d'un monde / En attendant plus tard / Occupe toi des prochaines secondes' ' ' '). * Edit. 02/04/2011: Dans le fond d'une armoire / Des photos comme des coups de sonde.' ' ' ' ' (A paixão segundo G.H.)




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* De tudo experimentei/viagei,cri/nadei nu/mas quando penso nisso/nada faz muito sentido./Talvez eu não tenha nascido/talvez eu seja apenas ausência/por isso não me foi dado o sentido.   ** Eu nunca te disse/mas somos imortais./Você já sabia/adivinhou/que os deuses se escondem/atrás de nossos rostos bêbados   *** E que havia sangue/que não secaria/você me deu a mão/para beber daquele sangue.   ' Mas quem é você? Mas quem é você? Mas quem é você?   ' ' Eu saí atrás de você sem te dizer, numa bela manhã/E não voltei a me juntar a ti/nem sequer tocar seus dedos/em cada lugar que vais...   ' ' ' Todos estes garotos perdidos não riem jamais/Eles jogam pedra.   ' ' ' ' Na luz do entardecer/Tu verás o fim de um mundo/Ao esperar mais tarde/Ocupe-se dos próximos segundos.   ' ' ' ' ' No fundo de um armário / Fotos como indagações.

(Esse esquema de comentário sobre um disco é inspirado no do blog de uma pessoa querida que ... 'partiu'.)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Se você quer, tome. Quer, quer? Tome, tome, tome, rs.

 Foto: Chema Madoz - Book


Às vezes, me empolgo tanto com algum disco ou livro, que, mal a pessoa pede emprestado, eu logo entrego. Em 2007, depois de ter lido umas peças do Oscar Wilde, comprei "O Retrato de Dorian Gray",  único romance do autor. Em 2008, emprestei para uma pessoa que se mostrou interessada no livro e confiável (tanto pela maturidade do papo quanto pela idade, pois tem pouco mais de 30). Ela enrolou pra ler e perdemos o contato pessoal. Passamos a nos comunicar somente por MSN. De mês em mês, uma janela pulava aqui na tela dizendo assim: “Tenho que devolver seu livro”. Ontem, veio falar de novo. Mas depois de 2 anos, só Paulo Coelho e Augusto Cury juntos pra terem esperança. Então, transcrevo aqui a cordial conversa:

Pessoa: Oi, td bem? tenho que te devolver seu livro
Moi: Não precisa, já comprei outro.
Pessoa: tenho um livro bacana do osho. acabei de ler. se vc quiser eu levo pra vc.
Obrigada pelo presente rsrs.
Moi: Presente? não, é que eu desisti mesmo.
Pessoa: PODE DEIXAR QUE JOGO NO LIXO, NAO SE PREOCUPE. VC APRENDEU A SER GROSSO, OU SERA QUE SEMPRE FOI? SE ACHAR QUE DEVO ALGUMA COISA PODE COBRAR QUE EU PAGO. VA SE FERRAR.

Depois de ficar com a boca aberta por uns 10 segundos, eu pensei: "É, acho que aqui se finda mais uma 'amizade' ". Parece que eu estou cada vez mais habilidoso com as pessoas, rs.

sexta-feira, 19 de março de 2010

De amor e trevas

Big brother abuses your litlle bro...- Vitor Hugo Borges
Disponível em: http://maliboo-stacy.deviantart.com/art/oldbrotherabuse-936791

Uma pessoa me contou ontem que não tem sido fácil viver em casa. Impuseram-lhe toda a responsabilidade financeira e ela pensa em morar sozinha, mas o medo da reação de pessoas que não têm nada com a vida dela exercem influência decisiva. Não a julgo, entendo perfeitamente. Enquanto conversávamos, me voltou o desejo de mudar. Mudar de vida, de espaço. Passar a viver com vontade e coragem que nunca tive. Ser importante para alguém que tenha saído do meu plano platônico.

*

Ligando minha cintura e o alicerce central da minha casa, existe um espesso elástico. Não importa quão longe eu vá, o retorno é certo, ainda que no esforço da ida e na luta contra o regresso eu arraste comigo, à força, e por desespero, objetos e vivências que me certificam de que não foi uma vã tentativa de desprendimento.


*

Deixo muitas vontades morrerem por vários motivos. De tanto idealizá-las eu me canso às vezes e a letargia vem de garfo e faca me pegar,rs. A próxima vontade é só a de que uma noite dure mais tempo que comumente, pra que eu possa aproveitar a dose homeopática denotativa d'la petite mort e desejar a conotativa.


Everyday it’s just another breath
Every night another little death ¹

*

Ontem à tarde, já escurecendo, saí pra cortar o cabelo. Achei que ficou bonito, e me achei bonito. É sempre bom registrar esses momentos porque não são frequentes. Mas o que eu mais queria era cortar o meu cabelo por alguém; cuidar de mim para alguém.

*

Uma professora queridíssima me emprestou "De amor e trevas", a autobiografia do Amós Oz. Comecei a ler.

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¹ Saucer Like - Sonic Youth

quinta-feira, 11 de março de 2010

Suce moi lentement...

 Foto: Nosferatu, meu anjinho da guarda,rsrs. Filme de F. W. Murnau (1922)


Acontece que os serial killers dividem espaço com a vampirada. É um matando o outro. A moda agora é Crepúsculo (livros e filmes), House of Night (livros), True Blood e Vampire Diaries (séries de televisão). Dotado de um espírito altruísta, decidi auxiliar as autoras de House of Night para que tenham mais ideias para os próximos lançamentos da série,que já contam com “Marcada”, “Traída”, “Escolhida” e os ainda não traduzidos "Indomada" , "Caçada", "Tentada" e "Queimada").

Na linha de Marcada, Indomada, Caçada, Tentada e Queimada, pensei em:

Enxotada, esculhambada, escorraçada, enrolada, danada, malcriada, desmamada, amuada, desanimada, fornicada, endividada, enciumada, destroçada, dilacerada, esfolada, vingada, destrambelhada, estocada, intocada, machucada, descontrolada, perscrutada, contrariada, espivitada, escarrada, suada, cortada, dopada, envenenada, enlatada, empoeirada, massacrada, abandonada, famigerada, anunciada, imaculada, sugada, arrombada, sondada, amordaçada, humilhada, iluminada, pelada, chateada, amarrada, acabada, debilitada, despedaçada, estraçalhada, rasgada, intolerada, pisada, arrancada, travada, embananada, atrapalhada, desvairada, trocada, eliminada, degradada, exilada, desregrada, dilatada, alucinada, deslumbrada, enganada, empacotada, perturbada, derrotada, desgraçada, aturada, espiada, angustiada, sufocada, odiada, inconformada, assustada, pichada, assombrada, serrada, metralhada.

Já em relação a Escolhida e Traída, pensei em:

Emputecida, amortecida, desiludida, ferida, mordida, sofrida, envaidecida, possuída, fugida, escorrida, partida, entretida, desaparecida, decidida, prometida, comida, fodida, lambida, perdida, medida, preferida, banida, dolorida, crescida, transferida, iludida, socorrida, confundida, comedida, sentida, vencida, abatida, diminuída, padecida, consumida, reprimida, entupida, ardida, acudida, protegida, incompreendida, esquecida, envelhecida, enfraquecida, suicida, entristecida, distraída, corrompida, ensandecida.

Espero, de coração, ter ajudado.

segunda-feira, 8 de março de 2010

A Festa de Junette

Foto: Filme "A Festa de Babette"


Na semana passada eu fui convidado para o aniversário de uma colega (e amiga) de sala que mora em Nova Era. Sexta-Feira saí pra comprar o presente que uma conselheira me indicou: bombons. Comprei também um cartão, escrevi uma carta e fiz um tsuru com um papel que eu enchi de ideogramas de paz, amizade, felicidade e amor. É gostoso colocar no meio de presentes comprados um feito pela gente. A pessoa sabe que você dedicou a ela um tempo maior do que o de ir numa loja e escolher algo pronto.

No sábado, vi um amigo na rodoviária. Ele também ia viajar. Prometeu, como sempre, que viria aqui em casa depois que voltasse. Parece que as pessoas sentem culpa por não terem te visitado e, como parte básica da conversação, que começa com “oi” e termina com “tchau”, eles adicionam um “apareço na sua casa depois”. Peguei o ônibus junto a outra amiga e fizemos a viagem cósmica rumo a uma ‘nova era’... pfff. (saudade da Nair). Chegamos, conversamos um pouco, assistimos televisão, comemos Bis, fomos para o quarto, conversamos mais, tomamos banho e aí começou a festa mesmo, que foi só pra família, poucos amigos da cidade dela e a turma da faculdade (pequena, 6 pessoas, e só foram duas).

Tudo começou com um amendoim que eu ainda não tinha comido. Ele tem aquela massinha crocante igual ao do tipo japonês, só que é vermelho e apimentado. Muito, muito bom. Depois, um escondidinho de creme de abóbora com creme branco e carne seca bem desfiada. Mais novidade pra mim, também uma delícia. Aí veio um guacamole, feito basicamente com abacate, limão e sal. Comemos com doritos e estava super bom. Não conhecia. E o churrasco... picanha no ponto, meio mal passada, suculenta, com gordurinha tostada e adocicada... hmmmmm. Carne de porco, dourada por fora, branca por dentro, bem temperada... hmmmmm. Linguiça calabresa, com aquele gosto bom de carne defumada... hmmmmm. Depois desse pesadelo vegetariano, e sonho molhado carnívoro, rsrs, serenata de amor ao redor de um bolo de nozes delicioso, nada de muito doce.

Enquanto estivemos na mesa, histórias sobre o que fulano fez, quanto bebeu, com quem ficou. É legal, apesar de um pouco cansativo, porque são coisas previsíveis, que só mudam de sujeito. Mas são também engraçadas. Ri bastante, e isso me faz bem. Nessas horas eu penso em como desperdiço meu tempo em casa, enquanto tanta coisa acontece lá fora. Quanta gente eu poderia conhecer, mas não conheço. Só que não adianta: quando chega a oportunidade de socializar, eu me lembro de como é chato suportar o papo de várias pessoas até que você encontre um legal. Por isso eu saio com 1 ou 2 amigos no máximo, porque sei o teor da conversa – sim, arrisco pouco.

Depois das conversas da mesa e do bolo, e das odiosas máquinas digitais que acusam que a foto “borrou”, “não pegou fulano”, “ficou escuro”, “minha cara ficou esquisita”, “tenta esconder essa verruga do meu nariz e esconde a minha vassoura”, as pessoas foram dançar (não, eu não quis). Músicas, as do momento. Por isso, Lady Gaga (pfff) na maior altura, dentre outras. Eu entendo que pra situação não rolava Cat Power (de Moon Pix) nem Antony and the Johnsons, rs. Música alta é uma delícia, ainda mais com um bom som. E eu que não gosto muito de dance, estava achando bem legal. Aniversariante dançando de modo engraçado e cantando tudo que tocava, rsrsrs, que gostoso foi ver aquilo!

Saímos da área da festa, viemos para a sala, conversamos, nos despedimos de quem ia embora, fomos para o quarto, conversamos mais, aniversariante já com muito sono e grogue, falando “Não fala mal de Wanessa Camargo porque eu transfiro pra ela...”, “ Isso é locomotiva?...”, e ainda “Ela recebe muitos xingos”. Dormimos (eu em quarto separado). Colchão gostoooso, friozinho leve que fazia à noite... Luz da manhã. Cheiro de pão de queijo subindo as escadas. Escovei os dentes, desci, fui encontrar a dona da casa jogando Pinball no computador antes de terminar uma tábua de frios que fazia por encomenda. Acordara tarde, segundo ela, às 7h. Às 5h é o costume. A aniversariante, lavando copos da festa do dia anterior. A pedido dela, acordei minha amiga dizendo que “Em Nova Era, ninguém dorme até tarde”, rsrsrs. A mesa do café estava pronta, bonita, cheia. Leite, achocolatado, café, bolo de chocolate com castanha, sucrilhos, pão doce com canela, pães de queijo.

Assistimos um pouco de TV (passava The Big Bang Theory e depois Old Christine). Subimos para os quartos, deitamos, conversamos. Tiraram fotos aleatórias. Deletei várias do dia anterior (mua-há-há). Para o almoço, chegaram os parentes que vieram no dia anterior. Fiquei na mesa com eles. Falou-se do casamento dos noivos que estavam lá. Comemos mais amendoim, hmmm, mais picanha, hmmm, mais creme de abóbora, hmmm, e um pouco de batata frita. Já eram 15h quando nos despedimos das pessoas e viemos embora de carona com uma parente da família e as suas duas filhas. Cheguei em casa... pé no chão novamente. Problemas aqui e ali, gente irritada. Berros. Acabaram com a minha noite.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Quem com faca fere...


Perceberam que os serial killers viraram celebridades? Uma psicóloga brasileira, que até escreveu um livro sobre como reconhecer um psicopata (livro bem tché-tché inclusive) disse, numa entrevista no Sem Censura, que o Maníaco do Parque era o campeão de cartas recebidas. Várias propostas de casamento foram feitas a ele, teve seus 15 minutos de fama na TV, fez e aconteceu. Em Six Feet Under, no episódio “The Foot” da 1ª temporada, a Claire mencionou um tal de Jaffrey Dahmer. Procurei no Google a respeito do bom rapaz e descobri que apesar de bonito e calmo, cortava o pênis dos seus parceiros e os guardava numa caixa, cozinhava a cabeça para que a pele soltasse mais facilmente do crânio e os pintava, expondo-os como troféus, e também comia a carne dessas vítimas. Depois de preso, foi assassinado por um colega de cela.  Outros indivíduos desse tipo que vieram até mim, foram a dupla sertaneja Eric Harris e Dylan Klebold. Soube deles pelo noticiário, claro, mas li sobre o caso principalmente pela relação que fizeram, na época, dos assassinatos com o Marilyn Manson. Acontece que os carinhas decidiram metralhar seus schoolmates porque sofriam de bulling. Mataram cerca de 14 estudantes no Instituto Columbine, no Colorado, EUA, em 1999, e depois se suicidaram. Alegou-se, na época, que a dupla escutava um tipo de rock agressivo que pode tê-los influenciado. Dentre as bandas prediletas estavam KMFDM e Marilyn Manson. O acontecimento rendeu um documentário do Michael Moore (Bowling for Columbine) e um filme ótimo do Gus Van Sant (Elefante). Dahmer era homossexual. As más línguas diziam que Harris e Klebold também trocavam figurinhas. Em “Elefante”, os personagens que os representam tomam banho juntos e se beijam. O corte da cena logo após esse fato permite pensar que algo mais aconteceu.

Shoot shoot shoot motherfucker
Shoot here and the world gets smaller ¹

Boa parte desses indivíduos que não se encaixam no comportamento natural e que seguem um próprio código, acabam revelando desvios sexuais também. E eu suspeito que a ficção retratou esse lado. O seriado “Dexter”, o qual por um bom tempo eu assisti sem muito ânimo, mas depois me viciei, e engoli 4ª temporada, com 12 episódios de 50 minutos cada, em apenas um dia, mostra os dois lados da vida de um psicopata que trabalha para a polícia de Miami. Fizeram muitas adaptações de um assassino em série de verdade para um personagem, é claro, afinal se trata de ficção, até romancezinhos-água-com-açúcar tem.  Dexter me faz lembrar dos vampiros da Anne Rice. Acho que eles têm coisas em comum: escondem sua verdadeira identidade; fingem o tempo todo reações e sentimentos que costumam não ter; espiam e perseguem as vítimas; quando estas lhes interessam, estudam-nas meticulosamente; tentam fazer parte do círculo social delas; e, por fim, após essas preliminares, chegam ao orgasmo, cravando-lhes algo no corpo que permita ao sangue/gozo jorrar (no caso dos vampiros, as presas; no caso de Dexter, a faca). O assassinato é o coito desses personagens. Nada lhes dá mais prazer. Louis, o narrador de Entrevista com o Vampiro (Anne Rice), afirma que, apesar de atacar mulheres, as vítimas preferidas de Lestat eram jovens rapazes. Por um lado, Dexter leva uma pacata vida de namorado e, no decorrer da série, pai de família, mas só alcança o êxtase supremo do seu desejo mais oculto quando alivia as tensões ao esfaquear e esquartejar suas vítimas, todas elas homens, escolhidos a dedo.

Got my lunchbox and I'm armed real well
Next motherfucker gonna get my metal ²

A ficção te permite tal distância da realidade que às vezes me sinto culpado por gostar de assistir a um assassino dilacerar a vítima em nacos de carne e querer mais cenas de horror. Mas aquele sangue fictício, feito de groselha, rsrs, e os jogos de câmera que simulam uma arma fria abrindo caminho na carne do ator, não são páreos para um Dahmer da vida, que fez isso:

(se tiver estômago fraco, já sabe que não deve clicar, não é?)

Já me imaginei cortando alguém. Não gostei das imagens que me chegaram do além,rs. Hoje, eu cortei carne de porco em cubos para o almoço. Raramente faço esse serviço. E digo: a sensação não é boa, principalmente quando ela está em temperatura ambiente e o tato sente os gomos de tecido e músculo sendo partidos. Preciso de outra profissão. Não sirvo pra ser Dexter.

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1- Marilyn Manson - The Reflecting God
2- Marilyn Manson - Lunchbox

segunda-feira, 1 de março de 2010

Motohiro in the Rain (everybody sing along)

Sophia Coppola - Lost in Translation, 2003.


Ar fresco, baixa luminosidade, música no headphone. Costumo caminhar sozinho à noite . Pra mim, que fico muito dentro de casa, é ótimo, principalmente quando me irrito com algumas situações. Ver o movimento dos carros e saber que existem pessoas lá fora que vivem enquanto você também vive mas não vivem o que você vive, é ótimo. Há poucos dias, descobri um cantor que não canta mas só toca chamado Motohiro Nakashima. Baixei o cd "I dreamt constellation sang" e fui escutando enquanto caminhava. Uma das faixas (a 12) é hipinótica e triste - 'Starbright Reflected in the River'. No começo, violãozinho base quase valsa, solinhos-pra-ficar-triste-e-reflexivo de guitarra. No meio, trumpete(?) sexy, sintetizadores(?) de o.v.n.i.'s rs,  bateria comedida e educada. No final, bateria calada, baixo acústico silencioso, macio, com a madureza dos antigos. Recomendo pra quem gosta de música instrumental e down a la Sigur Rós, Colleen e cia. rs.  Outra música bem gostozinha que ouvi também é "Asleeping in the Sunshine", que tem sonoridade um pouco mais ritimada que a anterior, mas a bateria é mais leve, além de não ter o sopro. E se você não caminha, tudo bem, faça como eu faço às vezes: pegue um ônibus até o centro da cidade e volte em outro, ouvindo música, só pra poder flanar um pouco e desintoxicar as vistas - isso se você não morar em Tóquio e não tiver, à sua disposição, um trem bala pra se sentir perdido(a) feito a Charlotte de Lost in Translation.

*Primeiro post, um "post debut", mas sem cerimônias.*