
Há poucos dias recebi um e-mail intitulado "Fotos Históricas" que trazia uma série de celebridades e lugares mundialmente ou nacionalmente conhecidos. Elvis Presley no exército, Marilyn Monroe na Playboy, a evolução das garrafas de Coca-Cola, o Corcovado sem o Cristo Redentor, o massacre do Carandiru, etc. Mas a minha foto predileta é uma do John Lennon dando autógrafo ao jovem que, pouco tempo depois, iria assassiná-lo. Ainda não gosto tanto assim de Beatles, e gosto menos ainda de John Lennon em carreira solo, e como não chego a ser fã, não é por tietagem que a foto me chamou a atenção. Aliás, ela é simples, não tem nada de pungente pra mim e, de início, só serve como registro. Ela só ganha importância e deixa de ser só mais uma dentre várias fotos por ter captado o instante em que algoz e vítima estão tão próximos. Não li bem sobre o caso, então não sei se nessa época o rapaz à direita já planejava o crime. Estive aqui tentando encontrar na feição dele algo que denuncie a sua intenção. Mas não vejo nada! Acho que ambos estão enquadrados no domínio do imprevisível. Chego a sentir um pouco de pena daquele que será morto porque eu sei que ele será morto, e ele, na foto, não sabe. Quando se trata da foto, eu tenho consciência de que Lennon morrerá pelas mãos daquele que está logo ali, ao seu lado. Nesse sentido, eu prevejo o futuro, enquanto ele, personagem-protagonista que sofrerá a ação, permanece na inocência e na ignorância. Diferente de Jesus Cristo, que sabia que um de seus apóstolos o trairia, John Lennon estava desprevenido. Em compensação, o autógrafo dado por ele ao fã é como o beijo concedido a Judas.
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P.S. I - Título: Mário Quintana
P.S. II - Ainda volto aqui para falar da semana passada, em que saí em todos os quatro dias de feriado e ainda fui em um show de pagode!