quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Livros - Parte III (Fim) - Leituras de 2010



No ano de 2010, em relação aos outros anos, eu li pouco porque gastei o tempo assistindo a muitas séries de televisão como também a filmes. Além disso, foi o ano definitivo para a escrita do Trabalho de Conclusão de Curso, o que me tomou bastante tempo e nervos, rs. Mas aqui estão as impressões do que eu li:

Comédias para se ler na escola - Achei algumas crônicas muito boas, mas várias tão ruins! Me indicaram o "As mentiras que os homens contam", disseram ser melhor.


Perdas e Ganhos - Sempre ouvi muita gente falar mal desse livro. Acontece que eu queria dar um presente pra uma pessoa que não estava muito acostumada com romances e ficções, e eu queria dar um best seller. Era para uma mulher, então resolvi dar Lya Luft. E eu gostei muito porque, apesar da mistura de auto-ajuda com memórias, o texto era tão fluido que parecia que eu escutava uma palestra, e eu me diverti. Lembro de uma professora me ensinar que tudo serve pra alguma ocasião, qualquer que seja o escritor/artista. E, de fato, apesar de todo o falatório acadêmico contra, a Lya me serviu e eu gostei.


Coração Andarilho - Um livro de memórias da Nélida Piñon. Ela conta sobre a infância no Rio e também quando morou durante vários anos na Galícia, sobre o pai que permitia que ela comprasse absolutamente tudo o que quisesse na livraria, sobre como começou a escrever, enfim... esses assuntos abordados por todos os escritores que fazem memórias, mas com enredos e personagens diferentes, rs. É bom, é bom... mas por ser Nélida, me pareceu, fortemente, que poderia ser bem melhor.


A História do Amor de Fernando e Isaura - Primeiro livro do Suassuna que eu li. Um amigo virtual que mora em Belém do Pará me deu de presente de aniversário. É uma adaptação de Tristão e Isolda com elementos bem brasileiros. A história se passa no nordeste, com direito a praias, barcos, frutos típicos, trabalho pesado ao invés de cavalaria e glória. O romance é daqueles avassaladores, hahaha, e muito, muito exagerado. Não é o meu estilo favorito, e quem me deu sabe. Pra mim, entretanto, tem valor sentimental por ter sido um presente e gostei do livro.


De Amor e Trevas – É uma autobiografia do escritor israelense Amós Oz. Muitas lembranças presentes nesse livro não interessam a não ser ao próprio autor, como costuma acontecer nesse gênero literário, e por vezes, os floreios ao redor de algumas memórias são exagerados e artificiais demais, como se tentasse torná-las importantes para alguém além dele mesmo. Amós era filho de pais intelectuais. Apesar de falar muito do pai durante as longas 624 páginas, um professor de literatura e poliglota (lia em cerca de 17 línguas) frustrado por não obter sucesso com os livros teóricos que escreveu, eu acredito que tudo isso foi escrito só para abordar o fato aparentemente mais marcante da vida do autor: o suicídio da mãe. Ela, que estudou filosofia e era oprimida pelo paternalismo da sociedade em que vivia, ingeriu uma quantidade excessiva de comprimidos depois de muito sofrer com inexplicáveis dores físicas (e psicológicas). Demorei quase 1 ano para ler 200 páginas - o início foi difícil - e 3 dias para as outras 400. É uma viagem na infância e adolescência do autor e a história de um estado recém formado, o de Israel. Gostei muito, no final das contas.


As Brumas de Avalon. Livro 1 - Acho que eu precisava ter lido quando gostava mais de aventuras e reinos fantásticos e antes da faculdade, porque agora eu vejo tantas falhas na criação das personagens, um estilo pobre de narrar, uma pressa (inexplicável, já que a série dispõe de mais de 1000 páginas) pra contar fatos que exigem mais calma, e uma besteira de falar mal do cristianismo pra enaltecer uma seita que se assemelha à wicca. Faltam mais três livros, e vou ter que fazer uma forcinha pra continuar...


Você quer o que deseja? - É do Jorge Forbes, um psicanalista e estudioso que ainda publica estudos e já deu palestras no Café Filosófico. Achei muito informativo o livro, mas talvez seja porque eu tenha um conhecimento bem primário a respeito desse campo. A leitura, entretanto, foi muito prazerosa, e ele aborda temas para o profissional da área, mas também para interessados e iniciantes no assunto. Indico!


A Peste - Finalmente eu li esse livro que há tanto tempo queria. Acho que já disse que eu tenho uma estima enorme pelo Camus. Dele eu já li “O Estrangeiro” (meu preferido até hoje), “O Avesso e o Direito” (o qual eu pouco compreendi. Preciso reler um dia), “A Queda” (achei ótimo, apesar de me parecer uma coleção de aforismos), e agora, “A Peste”, que tem um enredo bem simples, na verdade, mas que por trás diz tanta coisa sobre os horrores da guerra, e analisa o confinamento dos seres humanos exilados pela peste (ou qualquer flagelo que se queira, já que a peste é metafórica), todos formando uma massa uniforme, todos com sentimentos muito parecidos. Dentre os vários trechos que marquei durante todo o livro, este, particularmente, é muito bom:

Sem memória e sem esperança, instalavam-se no presente. Na verdade, tudo se tornava presente para eles. A peste, é preciso que se diga, tirara a todos o poder do amor e até mesmo da amizade. Porque o amor exige um pouco de futuro e para nós só havia instantes.

Em Busca do Tempo Perdido - Vol. I - No Caminho de Swann – Mais umas coisas que eu esqueci de dizer no post anterior: Eu... estou... em... estado... de... graça!!!... Fiquei perdido várias vezes em meio a tantas vírgulas e travessões, e frases de 15 linhas sem ponto, e descrições incríveis e muito, muito sensíveis, voláteis mas precisas, daquelas em que você só consegue dizer "É isso, é isso! Ele sabe exatamente como explicar essa coisa que parece tão simples!". É prazer demais, o tempo todo. Me lembrou um pouco Eça pelas descrições, Clarice por esmiuçar a simplicidade, e Virgínia pelas observações perspicazes e pelo fluxo de consciência em algumas partes. Já tive experiências sensoriais incríveis com ele e a meta agora é poder ter os volumes 3 e 4. O trecho que eu queria colocar tinha duas páginas, então não ia dar muito certo aqui. Vai este que também é interessante:

Quando mais nada subsiste de um passado remoto, após a morte das criaturas e a destruição das coisas, sozinhos, mais frágeis porém mais vivos, mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis, o odor e o sabor permanecem ainda por muito tempo, como almas, lembrando, aguardando, esperando, sobre as ruínas de tudo o mais, e suportando sem ceder, em sua gotícula impalpável, o edifício imenso da recordação.

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Últimos filmes: O homem da câmera; Em Paris; Dragão Vermelho; Matador; Sin City; Jamón, Jamón; Um lugar qualquer; Andrei Rublev; Educação; O livro de cabeceira; Sonata de Outono; Amor à flor da pele; A professora de piano; Cisne negro.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Livros - Parte II - Livro Novo (Proust)

Livros



Quando eu era pequeno e pedia às pessoas daqui de casa que lessem pra mim uma coleção de livros infantis de contos de fadas todos faziam cara feia e davam logo um jeito de se safar da tarefa. Mas depois que eu aprendi a ler tive preguiça de pegar essa mesma coleção, pois acho que já estava enjoado das figuras. Quando fiquei mais velho, a série vaga-lume me era até interessante e cheguei a pegar 3 volumes da biblioteca da escola por vontade própria. Infelizmente, até os meus 16 anos eu não lia praticamente nada que não fossem os “livros-chatos-que-os-professores-de-ensino-fundamental-e-médio-exigem”. O que fazíamos com eles? Resumos, claro, ou então um teatrinho ordinário “porque senão você não ganhará pontos e será reprovado”. Todo esse tempo perdido é irrecuperável, mas eu tenho aprendido a não cobrá-lo de mim mesmo porque eu ainda não havia descoberto o sabor que tinha a leitura, nem a importância para o pensamento, nem para a formação de um olhar mais sensível a objetos, pessoas e acontecimentos.


A obrigação de ler para passar de ano se reveste numa capa dourada de discurso pedagógico, mas ao invés de ser um incentivo, é uma mutilação do prazer pela leitura. Apesar de todos já sabermos disso, o exemplo que eu vou dar agora ninguém nunca ouviu porque aconteceu aqui em casa. É que eu conversava com minha sobrinha de 5 anos e perguntei se ela gostava de ler. Ela disse que não, porque quando ela errava a pronúncia do “b + a = ba” na escola, a professora tirava pontos. Pronto. Apesar da diferença de idade entre nós, parece que pouco se evoluiu em questões didáticas (pelo menos quando se trata de aplicação da teoria). Agora, a parte engraçada: Eu, querendo ser solícito, peguei um livrinho da história do Peter Pan para tentar mostrar a ela como pode ser interessante ler. Chegando ao final, quando o protagonista consegue derrotar os intrusos da ilha, o narrador relata: “O nosso vencedor voltou ao bosque, pegou uma corda e amarrou os piratas”. Eis que eu perguntei à minha sobrinha quem era “O nosso vencedor” e ela responde que é “Jesus”. Rsrs. Depois eu trouxe pra ela ver a mesma coleção de histórias de quando eu era pequeno e li um dos livros para ela. No dia seguinte – a pedido dela – tive de ler todos!!!




De volta à minha história, eu só comecei a ler por deliberação e prazer a partir dos 17 anos, quando descobri que “O Senhor dos Anéis” era, na verdade, a adaptação cinematográfica de uma obra literária. Eu fiquei muito empolgado e resolvi comprar o primeiro livro da trilogia: “A sociedade do Anel”. Data de 07.01.2004, portanto, o primeiro livro que eu comprei por vontade própria. Eu passava horas olhando os mínimos detalhes da ilustração da capa, da contracapa, da lombada, e o economizava, lendo poucas páginas ao dia, por medo de que acabasse tão depressa aquela emoção trazida pela história, mesmo sabendo que, se eu juntasse os outros dois volumes – “As Duas Torres” e “O Retorno do Rei”, os quais eu compraria prontamente em poucos dias – o montante de páginas chegaria a 1200, e que com uma quantidade dessas não havia motivos para economia.

Depois disso vieram os outros livros do mesmo autor: “O Hobbit”, “O Silmarillion”, “Contos Inacabados”, seguidos das aventuras púberes e mágicas de Harry Potter, e após essa introdução aventuresca e fantástica, o início de coisas levemente mais cabeçudas, como o existencialismo erótico dos vampiros de Anne Rice, o wit de uma égua vitoriana chamada Oscar Wilde, Machado de Assis, que eu ainda não entendia a genialidade, o pedantismo (haha) da nada simples Nélida Piñon, e outras tantas coisas interessantes que trouxeram epifanias e eurekas ainda não imaginadas. (Clique Aqui e poderá vê-las).




A faculdade de Letras também me trouxe experiências e pessoas incríveis, com as quais pude compartilhar leituras – não tantas quantas eu queria, infelizmente – e conhecer autores que, certamente, não conceberia a existência. Passei a ver a literatura nacional com olhos respeitosos e de admiração pela rica produção  que antes eu desdenhava – admito! – por ainda ser um moleque insolente com pentelhos nascendo aqui e ali, e só saber reproduzir o discurso de ódio que o brasileiro tem pelo Brasil. (Essa serve pra você mesmo, que ainda acha que só o que vem de fora é bom, seu tapado!!!)

Hoje eu compro livros compulsivamente, mais do que consigo ler, tenho um cuidado obsessivo com alguns e pequenos prazeres com o objeto em si. A exemplo, gosto de sentir quando o peso do livro se transfere da mão direita para a esquerda na medida em que avançamos na história e, saindo do início, chegamos às páginas finais. Também acho visualmente mais bonitos os livros grossos, que passam das 400 páginas. Na estante eles se destacam e o olho enche de água de vontade de ler – em comparação com a boca com vontade de comer –, mesmo que eu não os leia imediatamente. Gosto de rearranjá-los na estante de vez em quando, pelo prazer de manuseá-los, olhar as capas, relembrar as histórias dos que eu já li, e imaginar as que ainda virão, nas próximas leituras. Gosto quando um livro chega pelo correio, a aflição causada pela caixa, notas fiscais, isopores ou plástico bolha que impedem de ver logo a capa, de cheirá-lo e tateá-lo, de folhear as páginas. Gosto, em especial, do primeiro parágrafo, ou das primeiras linhas de um livro, porque tudo é novo e não parece que vai ser ruim, e às vezes até leio em voz alta.




Mas acreditem ou não, esse texto todo foi escrito para chegar aqui: Depois de muito tempo olhando preços e esperando que eles abaixassem, e depois de ouvir tanta gente que eu admiro falando bem e indicando, chegou aqui em casa para mim um exemplar de “Em Busca do Tempo Perdido – Vol. I – No Caminho de Swann”, do Marcel Proust (ituto). Fiquei muito feliz! A arte da capa é muito bonita e as fotografias que a ilustram foram retiradas do site Getty Images. E eu acho que a cor (azul) combina muito com o conteúdo do que eu li até agora. O livro tem exatas 558 páginas. Essa edição conta com nova revisão, um prefácio ótimo, cronologia do autor, várias notas explicativas de rodapé – que por vezes revelam pequenos trechos da história, o que me deixa meio chateado, haha –, um resumo do volume, ao final , e um posfácio, que ainda não li e não posso dizer se é bom. Na contracapa há um trecho escrito pelo André Gide, que resenhou a obra do Proust.

Lembro-me que um professor disse, certa vez, que era um preconceito essa insistência em achar que só o texto na língua original era bom. E eu concordei porque por mais que se tenha um conhecimento bom em uma língua estrangeira, é indiscutível que se tem maior domínio da materna. E uma tradução boa nos dá mais acesso ao texto original do que uma tentativa de leitura na língua em que uma obra foi originalmente escrita. A tradução dos quatro primeiros volumes de Em Busca do Tempo Perdido é respeitada e confiável por ser de um poeta brasileiro: Mário Quintana. Há quem não goste da poesia dele. Eu nada digo porque mal conheço. Mas a habilidade de um poeta com as palavras e a sensibilidade com a linguagem é inegável. Dois dos três volumes póstumos foram traduzidos por nada menos que Drummond e Bandeira.




Sobre o conteúdo eu ouso falar pouco, mas o pouco que eu vou falar acho que já vai ser muito, porque não li mais do que 1/5 do livro ainda. Aconteceu de eu querer parar de ler quando estava no começo, porque eu percebi que eu estava prestes a conhecer uma das escritas mais bonitas a que já tive acesso, e se continuasse, ela se esgotaria. Uma certeza é a de que tudo, mas exata e intransigivelmente tudo o que eu ler depois dessa obra, há de se subjugar, inevitavelmente, a essa forma única de organização narrativa e de escolha dos momentos mais oportunos para fazer brotarem as perfeitas palavras na (e da) página.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Livros - Parte I - Presentes



Eu sempre fugi do envelhecimento, mas no ano de 2010 eu resolvi fazer diferente: dei mais atenção aos aniversários dos outros e tentei aceitar o meu como algo bom e alegre. Fiz questão de parabenizar pessoas que mal conversava por internet, amigos que há muito não via, pessoas consideradas só colegas, tudo sem me preocupar em receber quando fosse a minha vez. No meu aniversário, não evitei telefonemas, como costumava fazer. Pelo contrário, atendi a quem me ligou e fiquei feliz pelos parabéns recebidos. Dei o máximo de presentes que pude e que quis, e recebi uma quantidade que nunca tinha recebido antes. Eu, que quando comecei a gostar de livros reclamava de nunca ganhá-los, tanto deles falei para as pessoas, e tanto encontrei amigos virtuais interessados neles, que nos últimos tempos, livros foram os presentes que eu mais ganhei. 

- De Belém do Pará, chegou para mim A História de Amor de Fernando e Isaura + uma carta.


- De uma amiga e colega de faculdade, A Legião Estrangeira e A Descoberta do Mundo + um marcador de página feito por ela mesma.



- De minha irmã, que me presenteou com dinheiro, eu ganhei (à minha escolha) No Caminho de Swann e Confissões de uma Máscara.


- De meu irmão, um par de tênis e À Sombra das Raparigas em Flor (à minha escolha);

- De uma amiga, a qual já me presenteou com um livro religioso e muito bom na época em que li, além de um anel que uso e é bonito demais, ganhei uma calça jeans.

- De outra amiga, um perfume Acqua Brasilis.

- No meu aniversário, em 2007, eu recebi, direto de Fortaleza, “A Insustentável Leveza do Ser” e “Crime e Castigo” + um cartão postal e dedicatórias bonitas dentro dos livros.


- Em fevereiro de 2008, uma colega de faculdade e amiga me deu “O Diário de um Mago” e “As Valkírias”.

- No mesmo ano, uma pessoa muito querida e amiga me presenteou com “O velho e o Mar” e “Entre os Atos” no meu aniversário. Esta mesma pessoa, em outras ocasiões, ainda me deu vários outros livros: Um com os poemas do Machado de Assis (tudo bem que foi porque não se interessava, mas me deu!); Souvenirs de Berlin Est (tudo bem que foi porque já tinha um igual, mas poderia ter dado a outra pessoa!); um que traz artigos sobre Modernismo (tudo bem que é porque tinha, novamente, dois exemplares, mas resolveu que daria a mim!); O Lobo da Estepe (tudo bem que é porque leu e não gostou, mas poderia ter jogado fora, só que me presenteou).



Eu, por minha vez, dei de presente:

- Um bauzinho com 4 livros de contos de fadas;

- Um kit de creme hidratante de ameixa + sabonete de ameixa;

- Uma camisa verde lisa + uma camisa de botão manga curta listrada;

- Livro: Perto do Coração Selvagem;

- Livro: Perdas e Ganhos + Carta + 2 DVDs com vários filmes gravados;

- Livro: n.d.a. (do Arnaldo Antunes) + Carta;

- Carta;

- Um blog (é! Dei um blog de memórias de presente. Pena que tudo deu tão errado, e eu me arrependi);

- Filme: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain + Carta;

- Uma barra pequena de chocolate branco (Talento);

- Cesta com chocolates;

- Filme: My Fair Lady;

- CD: Andarilho, do Flávio Venturini.