quarta-feira, 30 de junho de 2010

"Estamos indo de volta pra casa ..." - from facul'

Eu gosto tanto,tanto dessa foto... Willy Ronis - Praga , 1967.

19h30, aproximadamente. Eu bem que podia voltar a pé do centro pra casa. Tomara que esse ônibus chegue logo. Olha quem tá ali... hummm, vai entrar primeiro. Entrou. Minha vez. Roleta. Bancos da fileira esquerda. Vento frio. Vou fechar a janela. Já vai descer... desceu. Que curva gostosa. É bom ficar encostado nessa poltrona. Balanço bom, dá sono. Desço ou não desço aqui? Desci. Vou comprar um chocolate de presente. “Fulana tá aí?” “Não, foi pra faculdade.” “Entrega pra ela por favor?” “Entrego sim, pode deixar.” O senhor tá bem?” “Rapaz, tomei gelado e fiquei com dor de garganta. Já faz 5 dias.” “Remédio, cê tá tomando?” “Tomei, mas antibiótico não. Parei de tomar aquilo.” “É um arraso pro organismo, não é?” “É, e vicia!” “Ah, é, vicia também!” Ele tá olhando pra baixo, é hora de despedir. “Então tá bom, cê entrega pra ela por favor?” “Entrego, entrego sim.” “Ok, boa noite, até mais.” “Boa noite.”. Vou lá naquela lanchonete. Se estiver vazio, sento e como, senão, compro e saio. Vazio! “Essa torta é de frango com catupiry?” “Uhum” “Me dá uma.” Vou sentar longe deles. Ih, mas tem mais aqui.  Vou estragar o lance. “Vai tomar alguma coisa?” “Vvvvv... não”. Vieram dois sachês de ketchup, ótimo. Hmmm, tá gostoso. Esse lugar me lembra a T****, mas o que não me lembra ela?! ... Ai, hora de levantar. “R$3,90”. Já tá nesse preço? “Cobre um ‘ouro branco’” “R$4,90” “É R$1,00???, então não quero”. Pode fazer cara feia que hoje eu não ligo mais pra isso. Absurdo! Ventinho bom aqui do lado de fora. Quero comer mais. Padaria. “3 mini-empadinhas, 3 mini-bolinhos de queijo. Não tem coxinha?” “Não, mas tem bolinho de mandioca... tem pastelzinho de carne.” “Não, obrigado. Só isso mesmo”. “Quer que esquente?” “Quero, mas bem pouco” “Aqui está. Boa noite, obrigada.” “Obrigado você, é educada e atende bem.” “Obrigada” “Nada. Tchau” “Tchau”. “Tem ouro branco?” “Não” “Então quero um Serenata”. “Deu tanto”. “Obrigado” “De nada”. Que delícia essa empadinha. Mas vou provar do bolinho também. O que estiver mais gostoso deixo por último. Hmmm, tá melhor o bolinho. Vou comer a empadinha então. Tomara que eles não me peçam. Empadinha boa!  Hm... bolinho gostoso! Como um iPod com bateria recarregada faz falta. How to disappear completely combina tanto com essa solidão flanante e noturna... e Devendra aqui também cairia tão bem. Vou entrar nessa rua. Não, na de cima. Saco... na próxima acima. Que vontade de 'xixizar', rs. Nossa, moitinha perfeita. Merda de moto. Nunca faço isso, por que hoje? Instinto? Hm, ali... voyeurismo da iminência de ser visto fazendo algo que só se faz de porta fechada. Escorreu pro murro. Tô nervoso. Olha, fiquei excitado! Gostei disso. Preciso repetir algum dia. Ih, essa é a rua da Fulana. Será que vou ser assaltado?  É bem quieto aqui, que paz. Cidade grande talvez seja difícil de andar assim.  Tomara que eu não encontre ninguém. Veja quem tá ali... pergunta rápido, pergunta rápido! “Tem trident?” “Não”. Pare de olhar rápido. Finalmente vi aquela boca de perto.  Perfeita. Minha nossa! Olha os olhos! Academia. Saudade de academia, mas aquelas músicas... Vou entrar nessa farmácia. Chocolate. Drops de Frutella de morango com creme. “Deu tanto “Obrigado “De nada, boa noite”. Não me importa que você me olhe comer na rua. Mocinhas de porta de igreja? Com essas caras? Sei... Noooossa Senhora! ... Ah, não... eu preciso de uma coisa dessas, só pra mim. Quanta carência. Olha a beleza! Vê como senta! Os olhos fixos. Nem me vê. Pele pálida! Pare de olhar! Aqui costumava ser um armazém. Gregor Samsa, que fazes tu esmagado no chão, 'homem'? rs. Foi G.H. que te fez isso, foi? rsrs. Ops, voooolta porque se não comprar fanta vai se arrepender. Será que tem nessa padaria? Ih, só Sukita. Vai esse guaraná pequenininho aqui mesmo. Tomara que esteja geladinho. Hmmm... geladinho. Hmmm, gostoooso. Ahhh não... casa? ... É, casa. Pelo menos tenho, é reconfortante. É seguro. Que bom. Tente agradecer mais vezes. Quanta porcaria comi. Mas me faz tão bem! (As pancadas ela esquecia pois esperando-se um pouco a dor termina por passar; Mas o que doía mais era ser privada da sobremesa de todos os dias: goiabada com queijo, a única paixão na sua vida*).

Filmes dos últimos dias: Juventude; Noivo Neurótico Noiva Nervosa; No limiar da vida; Drawing Restraint 9 (pela terceira vez); Manhattan; Zelig; Bastardos Inglórios; Morangos silvestres. Rebecca (dormi na metade... tenho que terminar).

Amanhã, 1º de julho, aniversário da Marisa Monte. Ela já cantou muito pra mim e me apresentou música brasileira muito boa. Feliz Aniversário. 

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* A Hora da Estrela.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

David Lynch

 David Lynch e seus cabelos de "Tieta nas dunas do agreste".

Eu conheci o David Lynch da pior maneira possível: assistindo o filme Twin Peaks. Não entendi bosta nenhuma e fiquei com aquele gosto de “é só isso?” na boca. Descobri que era um filme baseado num seriado homônimo criado por ele. Depois eu vi O Homem Elefante e, a não ser pelo personagem-aberração, não encontrei a estranheza que todo mundo falava. Nem gostei do filme, pra ser sincero, a não ser pelo tratamento cuidadoso do preto e branco. Isso foi no final de 2008. Essa semana eu resolvi dar uma chance a ele (olha como sou bondoso, rs!) e fiz uma maratona David Lynch. Foram 4 filmes, um por dia. Como eu acho que resumo do enredo torna o filme bobo, só vou contar mesmo as minhas impressões, como no post anterior:

Mulholland Drive (2001) Atuações exageradas e teatrais de propósito. Dicções perfeitas e falas lentas. Uma escuridão palpável (algo que eu perceberia em todos os próximos filmes) como em nenhum outro diretor. Bastante vermelho. Cenários e objetos coloridos. Isso lembra Almodóvar, que usa mais cores contrastantes que Lynch mas pouco claro/escuro. As protagonistas deram um pega animal, rs. Praticamente todo o filme passa e pouco dá pra entender. Somente nos minutos finais a história fica um pouco mais clara. Gostei, mas a primeira impressão foi de um filme simples. Cena marcante: uma mulher cantando com playback em espanhol no teatro (o que lembra Almodóvar outra vez). O Pablo Vilaça tem um site chamado "Cinema em Cena" e faz análises ótimas de vários filmes. Aqui você encontra a de Mulholland (é só clicar em 'críticas').

Blue Velvet (1986) Tem uma historinha melosa, chata e estereotipada de amor que contrasta com a aventura adúltera e masoquista do personagem principal. Comecei a achar que tinha “pegado a coisa” dos filmes: temas comuns (mulholland – ciúme ; blue velvet – traição) tratados a partir da visão e do estilo do diretor. Depois percebi que era muito mais. Assistir a este me fez gostar mais do Mulholland e deixar de achá-lo simples. Cena marcante: close nos insetos da grama.

Lost Highway (1997) A mai-or doi-dei-ra! Muito, muito suspense, e desta vez perturbador. Atuações e elenco melhores do que os filmes anteriores. Trilha sonora com rock (Manson aparece junto com o Twiggy em uma participação rápida como atores de um filme pornográfico. 97 foi a época de ouro da banda, quando começaram a fazer sucesso de verdade). Balthazar Getty novinho,rs. Para mim, dos filmes dele que eu já assisti, o melhor. Cena marcante: sexo em câmera lenta no deserto e uma luz celestial (ou infernal) incidindo sobre atriz.

Inland Empire (2006) Um filme mais para sentir do que para entender. Se eu tinha alguma dúvida da genialidade do David (intimidade), ela terminou em Inland Empire. E se eu achei Lost Highway a maior doideira, é porque eu ainda não tinha assistido este aqui. Foram três horas de filme e eu nem percebi. Muita tensão. A Laura Dern tem a mesma expressão o filme inteiro e isso incomodou um pouco. O começo do filme é até compreensível: uma atriz de Hollywood cuja vida se mistura com a da personagem de um filme que fará. Passados alguns minutos, é difícil saber qual cena é da vida da atriz e qual é a da personagem que ela representa. A câmera de mão deixa a impressão de algo caseiro e amador, cru, tipo Lars von Trier. O diretor ainda encaixou, no filme, uma série muito sinistra de curtas chamada Rabbits (tem no youtube), que mostra 3 pessoas com cabeças de coelho (aparentemente uma família: mãe,pai e filha) dizendo, com vozes em off, falas nonsense. Cronologia completamente embaralhada. Já não tenho certeza se Lost Highway é meu preferido. Cena marcante: a morte da protagonista que logo se revela apenas gravação do filme (metalinguagem).

Lynch não tem nada de sobrenatural. O que ajuda no suspense é a trilha sonora do Angelo Badalamenti, os cenários sombrios e as expressões de medo, de terror, de desespero, e de incompreensão dos personagens que vivem numa constante atmosfera de pesadelo.

Sabe quando você lê ou assiste a uma série e fica triste quando acaba? Então, fiquei assim depois que acabou Inland Empire, porque eu estava inteiro na onda do Lynch. Chapadão! Não vai ser a mesma coisa mas eu ainda posso assistir Wild at Heart, Eraserhead e o seriado Twin Peaks pra completar essa experiência incrível e que eu recomendo a todos que não tenham preguiça de um cinema menos convencional.

Assisti mais 3 filmes: um antes, um durante  e um depois dos de Lynch:

Sede das Paixões (1949) Bergman. Se comparado aos outros dele, é bem fraco. Mas continua sendo melhor do que muito filme do mesmo gênero por aí. Mulheres histéricas, mulheres traídas e, como sempre, uma relação “sáfica”, que ele adora colocar nos filmes.

My Fair Lady (1964) Aquela abertura serviu de inspiração pra Dancer in the Dark, eu aposto, ainda mais por serem, ambos, musicais. É longo, quase 3 horas, como The Sound of Music (Noviça Rebelde). Eu tenho uma preguiça colossal de assistir musicais, mas sempre gosto quando vejo. E esse não foi diferente. Audrey Hepburn é mesmo muito bonita. Não sei se era propósito do filme ou se na época ainda era assim, mas a mulher não passava de um objeto que os homens exibiam em festas. Gostei muito.

Moulin Rouge (2001) Gostei do clímax, do desfecho e de uma música (The show must go on). Mas só. A primeira metade do filme é muita macaquice pra mim e uma poluição visual (é claro, é cabaré). Ele é bonito, ela é muito,muito bonita, mas pra mim os dois não têm nada a ver um com o outro. Não rolou química no par. Uma coisa muito legal: as intertextualidades. Mas... músicas chatas, vozes chatas e sem potência. Talvez eu esteja sendo um pouco duro demais, e eu pretendo assistir de novo quando não estiver chapado por Inland Empire. Eu não sei se posso comparar, mas gostei muito mais de Chicago.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O balanço do Corpo de Cristo

 Screenshot de Hiroshima Mon Amour

Neste feriado de Corpus Christi:

True Blood  Últimos e chatos episódios da segunda temporada, que apesar disso foi boa. Acho que não precisava de zumbi. Ficou tão feio. E poderia ter aparecido um Baphomet mais caracterizado, pelo menos, com asas, pernas de fauno e tudo que tem direito. Mas por que sempre colocar outros seres sobrenaturais quando se fala em vampiro como se todos fossem farinha do mesmo saco?

Brothers and Sisters – Quase a 1ª temporada inteira. Eu acho roteiristas de séries tão criativos!  Gostaria de ser inteligente como vários personagens criados por eles, mas ser educado em essência, porque a maioria é frígida e ácida demais. Quanta gente bonita. Olha a Rachel Griffiths ali! (Brenda - Six Feet Under).Família inteira bonita. E tudo bem triste, mesmo quando estão em paz. São aflições concentradas em 40 minutos de episódio.

Irmão urso – Gostoso de assistir, leve, bem desenhado, engraçado aqui e ali, empatia como palavra-chave. Mas rasinho feito água de batata, história pouco densa e que servia pra qualquer outro ambiente e animal,  não só para uma cultura ancestral e tribal como a que serviu de background. Desses novos desenhos da Disney, gosto de Mulan (vulgo ‘mulambo’,rs), talvez pelas cores, mas prefiro os antigos mesmo, em technicolor.

Sempre ao seu lado
– Estava dando sopa aqui em casa e eu pensei: vou treinar listening. Coloquei sem legenda. Um cachorro que vem do Japão, se perde na estação e é encontrado por um professor. Os dois se tornam companheiros e o cão se mostra leal... (paciência...)... queria ver se faria sucesso sem o Richard Gere. De qualquer forma, foi gostoso assistir. Não tem que pensar em nada, só se entreter.

Preciosa – Feia, obesa, negra, pobre, triste, 17 anos e grávida do próprio pai pela 2ª vez.  (Cristiane F.  rs). Apanha da mãe, que não faz nada e vive de dinheiro do governo. Bom pra valorizar o que se tem. Gostei muito do filme. Me amarro em ambiente de escola. Mariah Carrey como assistente social e Lenny Kravitz como enfermeiro? What the fuck?

Hiroshima mon amour – Tem um programa no canal Futura destinado a filmes antigos. Um dia passou um chamado "Mon oncle d"Amérique" e eu gostei tanto que quis assistir outros do mesmo diretor, o Alan Resnais. Um amigo me indicou "Hiroshima..." . Os diálogos parecem prosa poética. Acho que eles sobreviveriam até mesmo sem as cenas do filme (que são tão bonitas também!). Foram escritos pela Marguerite Duras. Depois dizem que eu não gosto de romance. Assim eu gosto! E preto e branco é um descanso pr'as vistas, não é?

Madadayo
– 2 horas e 15 minutos de vida perdidos. Precisava daquele drama todo por conta de um gato ? (Se fosse o de cheshire pelo menos). Um curta metragem era o suficiente. Que arrependimento! Não espanta eu ter tido indigestão e dor de cabeça pelo resto da noite.,rs Sa-ca-na-gem, hein, Tio Kurosawa?!!! Nem "Rapsódia" foi tão vazio, e nem "Rashomon" foi tão chato, e nem "Os Sete Samurais" foi tão longo. E "Sonhos" é mesmo um sonho de tão bonito!

The Matrix – Tinha assistido duas vezes na televisão, mas era dublado, tinha intervalos, não vi até o final e nem com atenção. Agora foi pra valer, entendi, gostei e tudo. Estudei pra um concurso que exigia conteúdo de informática (hardware, software, segurança, etc) e isso foi bem providencial pra fazer outra interpretação. Que filme genial. Filosofia, literatura, bíblia, tecnologia, contemporaneidade. Não importo de ter visto tanto tempo depois. Me veio num momento oportuno.

The Matrix Reloaded – Gostei muitíssimo também e tive que rever a parte do arquiteto 3 vezes pra entender. Super bem escrito. Melhores cenas de combate da trilogia. Um quê de Tarantino motherfucker pelo exagero mangá. Bem legal.

The Matrix Revolutions – Um erro. Um exagero. Mistura de Dragon Ball Z com Power Rangers e Independence Day.