Pour que je n'oublie pas:
L'Artisan Parfumeur ; peut-être Fou d'Absinthe ; Xavier Dolan ; Les Amours Imaginaires
segunda-feira, 29 de julho de 2013
domingo, 12 de maio de 2013
Old Red
Amour - Haneke - 2012
Minha avó morreu. O fato, datado da segunda metade do ano de 2012, foi recebido com gritos e gemidos de "perdi minha mãe" de minha própria mãe. Eu e minha avó pouco nos víamos e tínhamos aquele paradoxo familiar da consideração pelo sangue, mas da distância física e emocional. Foi essa a principal causa de eu nada ter sentido quando ouvi "vovó faleceu", pelo celular, notícia dada por meu irmão, a não ser um leve "mais uma vida como tantas outras" e um outro "isso vai mudar a rotina do dia, quiçá da semana".
Pedi licença no trabalho, viajei pouco mais de uma centena de quilômetros, revi tios em estado choroso e primos neutros da angústia, como eu. Foi então que percebi que eu não era tão frígido como cheguei a imaginar; e como aquilo tudo era doloroso não pelo senso comum da perda de um ente, mas pelo automatismo dado - ou por mim percebido - a um ritual mais pesaroso que exige A Morte ocidental e a família envolvida.
Seguindo obsoletas tradições das pacatas cidades pequenas, no meio da sala de entrada da casa - e para todos que ali passassem pudessem ver - foi colocado o caixão. Durante toda a tarde e noite em que ficou exposta, e mesmo precisando passar por ali várias vezes para chegar aos outros cômodos da casa, não olhei sequer uma vez diretamente para minha avó, mas o olho captou relances das feições que eu tanto me lembrava mas que não queria encarar.
Passados 6 meses, em média, hoje fiquei particularmente mexido com essas lembranças. Culpa do absurdo que parece falar e ouvir em uníssono - resguardados os filhos de minha avó - que "eu não estou assim tão triste pela morte de vovó", além de alguns "nem eu". Não é à toa que um número sem fim de indivíduos conscientes do pó que são resolvem que não querem passar por esse mundo sem uma marca. Me dói saber que a contribuição de qualquer ser passe incólume, ou, neste meu caso específico, que as únicas lembranças sejam os lampejos translúcidos de férias da escola regadas a guloseimas "na casa de vovó".
Não pretendo dizer com isso que toda morte careça de ser tratada como um evento de proporções mundiais, nem que se contratem carpideiras para pranto eterno pela perda de alguém. Não haveria tempo nem empenho. É parte natural, é cultural, e mais que tudo isso, é individual, mesmo que atinja a todos. Acho que no fundo quero dizer que há um narcisismo geral - e me incluo nele - ainda não saído da infância, e que nos fere se pensamos que podemos - e, muito provavelmente, vamos - terminar "isso" (a vida) em total anonimato.
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