terça-feira, 31 de maio de 2011

Maio já está no final, e o que somos nós afinal?

Pra combinar com a laranja daquele outro post. 


Ontem, quando o primeio semáforo que há depois da autoescola abriu - dando aval para aquele dilúvio bovino passar no matadouro -, eu deixei o carro morrer e tive que ligá-lo às pressas porque vinham outros atrás. Não levei buzinada na cacunda (kkkkk) mas fiquei meio aflito. Hoje de manhã eu já saí de casa preocupado com isso, e pedi a Skinner 1 que não me punisse, porque eu já tinha aprendido com a lição, rs. Pois não é que o dito cujo me deu foi uma recompensa? Pela primeira vez, encontrei o sinal verde. Durante a aula eu errei baliza três vezes, o que deu margem pra que o "fidaégua" sentado no banco do carona afirmasse que "tá faltando pensar um pouquinho, hein, motorista?!", mas acertei as próximas duas. Na volta, o espírito de Nenê (como também é conhecido Skinner) foi mais uma vez generoso e eu encontrei o outro semáforo também verde. Chegando na autoescola eu me desesperei pra estacionar o carro no meio daquela muvuca de bicicletas e motos e pedestres e crianças com catarro verde escorrendo pelo nariz e limpando em mangas de blusas de frio já melecadas, o que deu vazão pra que o "fidaputa" sentado ao meu lado direito ralhasse comigo, dizendo que "cê demorou demais pra virar o volante, motorista, que negócio é esse? E essa sua embreagem hoje não tava funcionando, não?!". Não, não estava. Ela agarrou no seu ** quando eu apertei até o fim, babaca. Saí do carro, fechei a aula, e vim embora.



- O sinal...
- Eu procuro você...
- Vai abrir, vai abrir...
- Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
- Por favor, não esqueça, não esqueça...
- Adeus!
- Adeus!
- Adeus!2



Passei num mercado de verduras pequeno, coisa de duas portinhas, e enquanto escolhia limões - gosto muito em carnes e na comida -, ouvia uma música bonita ali dentro. A voz era masculina e o estilo era lírico. Lembrava um pouco o Josh Groban, mas eu duvidava que alguém aqui, e logo num mercadinho, conhecesse. Nem é preconceito, é estatística mesmo. 



Eu: "Isso é rádio ou CD?"
Ela: "É CD. Eu vi que você tava procurando de onde vinha o som" (e apontou, com sorriso no roso, pra um microsystem). 
Eu: "De quem é?"
Ela: "O CD? É meu".
Eu: "Não, digo, de que artista?"
Ela: "Ah, é Julio Iglesias. Eu adoro Julio Iglesias. Tenho três dele, mas quero pedir minha irmã pra gravar mais pra mim". 
Eu: "Achei muito bonita a música! E o estilo me lembrou um outro cantor que eu conheço".
Ela: "Quem?"
Eu: "Josh Groban. Ele é dos Estados Unidos mas canta em outras línguas além de inglês, tipo italiano".
Ela: "Ah, esse eu não conheço. Depois você me diz o nome do CD, e eu vou tentar comprar".
Eu: "Tudo bem, então. Até mais e obrigado".
Ela: "Até mais, e obrigado a você".



Fiquei feliz por ouvir uma coisa diferente em um lugar tão simples. Geralmente, o padrão é rádio tocando nunca-se-sabe-o-quê da terra do Tio Sam e sempre-se-sabe-o-quê, já que as músicas se repetem durante todo o dia. Acho que ela ficou feliz por alguém ter percebido a música , ter dito que gostou, ter se interessado em perguntar quem cantava e, ainda, conversar um pouco sobre aquilo em meio a bancadas de beterrabas, limões, pepinos, abobrinhas, cebolas, tomates, batatas, balança digital, gavetas do caixa, moedas, cédulas e sacolas plásticas. Mas saí de lá pensando "Oh meu Deus, eu gostei de Julio Iglesias. Eca!", kkkkkkkkkkkkkkkkkk. Isso sim foi preconceito. Mas tem gente que gosta, em alarde, de coisa bem pior (sem essa de relativismo hoje). Fato é que eu cheguei em casa e fui logo procurar na internet a tal música. Das mais de 400 disponíveis numa dessas rádios online, não é que eu escolhi a certa? Tinha entendido um "Te voglio bene" (valeu, Terra Nostra, rsrs) lá no mercado, coloquei no Google enquanto o início da música tocava e não dava pra distinguir se era ela mesma, e descobri que era. O nome dela: Caruso, que também é nome do cantor de "Una Furtiva Lagrimia", que nossa querida Maca 3 tanto gosta(va).

 

Te voglio bene assaie
ma tanto bene sai

é una catena ormai
che scioglie il sangue dint'e vene sai



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1 - Aquele carinha do behaviorismo, rs.
2 - Sinal Fechado - Chico Buarque.
3 - Macabéa (A Hora da Estrela).


sábado, 28 de maio de 2011

Não sou o Messias, mas trago novas...

 Há quem sofra críticas por admitir que gosta dele.

Andam, em sonhos, me assombrando. Pessoa antiga. Diz desdenhosa coisas como "fica ele lá, escutando o 'amaaado' Caetano. Não sabe de nada, não é prático. Quero ver o que vai ser!" enquanto subimos as rampas do Niemeyer*, descemos escadas estreitas de madeira, evitamos nos olhar e deixamos alunos pequenininhos passarem rumo às salas de aula.

E agora estamos aqui
Do outro lado do espelho
Com o coração na mão (...)**
 [Esperando que Jaguadarte o deixe em farrapangalhos (?) rs.]

De um pote cheio de rosquinhas bem crocantes eu tirei uma e comi. Na hora de escolher a segunda, procurei a menor, mesmo tendo olhado e desejado a maior. E deu um click: Sempre o receio de ser considerado esperto, egoísta, afoito e esganado, e a vergonha da associação com a minha imagem. Então, mesmo que eu pegue 20 pequenas, a mais vistosa é sempre deixada por último, pra que alguém que não tenha vergonha de ser esperto e seletivo a pegue e me livre da escolha - e para que o meu arrependimento cíclico recomece. Mas oh... como isso está mudando!!!

Slightly bemused by the total rejection
Dreams of a place with a better selection
Dreams of a face that is pure as perfection ***

Estive dançante esses dias. Mas faço mais mudras epilépticos com o corpo do que uma dança propriamente dita. Deve ser por isso que é tão catártico. Que nada, né? É só porque gasta um pouco de energia e libera endorfina mesmo, rs. Estou fazendo aulas de direção de carro (aleluia!) e fico tenso durante todo o tempo. Então, só por dois dias, senti vontade de chegar em casa e ter uma válvula de escape. O repertório é curto e já conhecido, mas as músicas foram as mais agitadas de Beirut (como Brandenburg, que parece um terreirão de macumba com maracatu), Placebo (tipo Brickshit House e You Don't Care About Us) e Björk (Earth Intruders).

You're too complicated, we should separate it.
You're just confiscating, you're exasperating. ****

Ahhh!!! Duas coisas pra contar: Num sábado, fui em um churrasco que teve muito coração de galinha, carne de boi, linguiça e asa de frango, três pessoas divertidas e inteligentes, bem como uma adolescente que foi dormir mais cedo, vinho tinto seco e branco suave, e um tal de Trivento (argentino) que eu gostei muitão, e trilha sonora com coisas que eu gosto. Na semana seguinte, fui em um rodeio e no show de Cézar Menotti e Fabiano! rs. Balancei um pouco, cantei (berrei) as músicas. Me diverti muitíssimo. Quem não me conhece, aposto que acreditou que eu sou fã dos rolicinhos. Sério! Ainda que não tenha encontrado, cacei! E vi conhecidos e conversei, e ri e critiquei, kkkkkk.

I beg you my darling
Don't leave me
I'm hurting (...)
You're not rid of me
I'll make you lick my injuries *****

I put a spell on you
Because you're mine. (...)
I don't care if you don't want me
'cause I'm yours anyhow. ******

Sabe... eu posso até ficar triste, mas não sou, definitivamente, desses de sair gritando essas coisas (tipo as dessas músicas aqui em cima) por aí. É querer se humilhar. Bom é voltar a gostar do que sempre se gostou.

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Últimos Filmes: Dias selvagens; Felizes juntos; 2046 - Os segredos do amor; A conversação; Dersu Uzala; Entre no vazio; Violência gratuita; A partida; Tio Boonmee; Lady Chatterley; Gênio Indomável; Maurice; XXY; e curtas (Comida; Dimensões do diálogo; Meat love; Código Tarantino; A casa de pequenos cubos).

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* Ontem assisti na TV um documentário sobre ele e acabou fazendo parte dos sonhos.
** Onde o Rio é Mais Baiano - Caetano Veloso
*** Burger Queen - Placebo
**** You don't care about us - Placebo
***** Rid of Me - PJ Harvey
****** I put a spell on you - Screamin' Jay Hawkins (mas eu conheço pelo cover de Marilyn Manson)